Negacionistas
não têm superego, ou seja, são desprovidos de senso de ridículo
‘Negacionismo’ é com certeza uma forte
candidata ao título de “a palavra do ano” no concurso promovido pela coluna do
Ancelmo Gois. De acordo com o “Dicionário crítico de psicanálise”, de Charles
Rycroft, uma personalidade negacionista é aquela em que o paciente tem
compulsão a opor sua vontade à dos outros, mesmo que isso o prejudique.
Os
negacionistas não têm superego, ou seja, são desprovidos de senso de ridículo,
só têm ego — e de que tamanho!
O exemplo internacional mais conhecido na política é, claro, Donald Trump, e o nacional, bem, é quase todo o nosso governo federal. Baseados em crenças e teorias conspiratórias, os pacientes desse que é considerado um distúrbio psicossomático negam, entre outras evidências: o aquecimento global, a lei da gravidade, a forma redonda da Terra, o desmatamento da Amazônia, a existência do Holocausto e da Ditadura Militar de 1964.
Há
cerca de nove meses, desde que irrompeu a pandemia da Covid-19, o presidente
Bolsonaro vem tentando impedir que o país tome consciência da verdadeira
dimensão da tragédia e de seus efeitos nocivos. Primeiro, classificou a
Covid-19 de “gripezinha”, negando em seguida que exista qualquer gravação
mostrando a frase. Seria mais uma invenção da “grande mídia”, que ele desafiava
a provar: “Não existe um vídeo ou um áudio meu falando disso”.
Em
março deste ano, porém, o presidente usou a expressão pelo menos duas vezes
publicamente. Uma delas em coletiva de imprensa no dia 20 de março: “Depois da
facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar, talquei?”.
Na
quinta-feira passada, num evento em Porto Alegre, ele voltou ao tema,
garantindo estarmos “no finalzinho da pandemia”. Nesse mesmo dia, 21 estados e
o Distrito Federal atingiam a alta na média móvel de mortes pela Covid-19.
Acho bom não contrariar o Bolsonaro, não convém. Mas dizer, com jeito, que da próxima vez ele não pode esquecer, precisa combinar antes o “finalzinho” com o vírus, talquei?
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