O
ano já vai fechando suas cortinas. O próximo já aponta na esquina. Mas é preciso
reconhecer: 2020 foi um ano meio estranho, meio esquisito, meio diferente
demais, o ano que parece nunca ter começado. Muitos amigos se foram. Caio
Nárcio, Carlinhos, Vivi, Alfredo Sirkis. Tantas pessoas que admirava: Aldir
Blanc, Sérgio Ricardo, Lan, Carlos Lessa, Flávio Migliacci, Dom Pedro
Casaldaglia. Alan Parker, Ennio Morricone. A pandemia já nos levou 190 mil
brasileiros.
Os últimos dez meses foram como coreografia repetitiva em torno de um samba de uma nota só: a COVID-19. Os boletins de casos confirmados e óbitos viraram rotina. As taxas de ocupação de leitos hospitalares entraram no cotidiano da população. Nunca o álcool em gel e as máscaras foram tão populares. A guerra era contra um inimigo único e invisível – um vírus originário da cidade de Wuhan, capital da província de Hubei, na distante China. Não havia dois lados, erámos todos contra o vírus. Ainda assim, alguns líderes de baixa sensibilidade e empatia humana conseguiram politizar a cloroquina, a vacina, o distanciamento social, o uso de máscaras, a origem do vírus e adotar o negacionismo diante da realidade que saltava aos olhos.
Se
é verdade que mais uma vez fomos confrontados com nossas fragilidades e com a
provisoriedade e imprevisibilidade da vida, nos encontramos também com o melhor
da natureza humana. O ser humano é o único na face da terra capaz de aprender
com as crises que aparecem à sua frente. E daí inventar, reinventar, transformar,
desafiar, inovar.
Além
da devastadora herança deixada pela pandemia, fica um legado positivo. Reaprendemos
que vivemos numa aldeia global e que precisamos não de xenofobia e sim de
solidariedade e integração internacional. Valorizamos a ciência e sua ágil corrida
para produzir uma vacina. Enxergamos de forma mais nítida o quanto é importante
o compromisso com o desenvolvimento sustentável, porque a destruição do meio
ambiente é um tiro pela culatra. Revalorizamos o sistema e os profissionais de
saúde, que provaram indo ao limite de suas forças, como são centrais na vida de
todos nós.
Acordamos
para a importância de uma maior atenção aos idosos, elos mais vulneráveis à pandemia.
Descobrimos que é possível estar mais próximo aos filhos graças ao home office.
Amadurecemos a consciência de que não precisamos de líderes truculentos,
intolerantes, agressivos. A vitória de Biden, um líder sereno, moderado,
experiente e conciliador, talvez seja a melhor notícia do ano. A derrota de
Trump, com sua agressividade, boçalidade e suas fakenews, abre um novo
horizonte para o mundo.
Clarice
um dia nos alertou: “Sei que cada dia é um dia roubado da morte”. Perdermos
muitos dias de pessoas queridas. Mas 2021 bate à porta. Precisamos
visceralmente de esperança. E Clarice mesmo nos ensinou: “O que verdadeiramente
somos é o que o impossível cria em nós”.
*Marcus
Pestana, ex-deputado federal (PSDB-MG)
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