- Folha de S. Paulo
O que precisamos saber e fazer para um dia
tirarmos as máscaras, como os americanos
Pessoas que tomaram as duas doses de vacina
contra a Covid podem tirar
as máscaras e esquecer o distanciamento social em praticamente
todas as situações da vida, anunciou a direção dos Centros de Controle e
Prevenção da Doença dos EUA (CDC), autoridade em assuntos científicos de saúde.
Isso quer dizer que, para os CDC, as
vacinas da Pfizer-BioNTech e da Moderna mais do que protegem de doença e morte.
Novidade maior: parece implícito nos dados mais recentes que, mesmo infectada,
uma pessoa não transmite a doença (ou o faz em níveis irrelevantes), o que
permite vislumbrar o fim da epidemia por lá, caso não apareça variante
preocupante do vírus.
As pesquisas que basearam o anúncio dos CDC não fazem observação diretamente orientada ou arranjada para detectar a transmissão, mas os cientistas chegaram a tal conclusão com base no progresso observado no estudo de profissionais de saúde. Em 2 de abril, um estudo dizia que as vacinas Pfizer-BioNTech e Moderna eram efetivas a ponto de evitar a doença em 90% dos casos de pessoas que tomaram as duas doses; no estudo divulgado pelos CDC em 14 de maio, o sucesso foi para 94%.
Das doses injetadas no Brasil até agora,
cerca de 70% são de Coronavac. Pouco se sabe cientificamente de sua
efetividade, seu efeito no mundo real. No Chile, uma pesquisa divulgada em
abril mostrou que a vacina evita doença sintomática em 67% dos casos,
internações, em 85%, e mortes, em 80%. Na Indonésia, estudo com pessoal de
saúde, divulgado com pouquíssimos detalhes, indica que a vacina evitaria mortes
em 98% dos casos, doenças, em 94%, e internações, em 96%. Um trabalho bem
preliminar com vacinados no Hospital das Clínicas da USP indica que a Coronavac
tem capacidade de
prevenção de doença de 74%.
Em São Paulo, o número de
mortes diminuiu proporcionalmente muito mais entre pessoas de
grupos de idade mais vacinados (ou subiu menos, a depender da data de
comparação). Em São Paulo, pessoas idosas começaram a ser vacinadas na semana
encerrada no dia 12 fevereiro (no caso, as de 90 anos ou mais). O número de
mortes de pessoas com 70 anos ou mais na semana passada cresceu 22% em relação
àquela semana de fevereiro. Entre pessoas de 60 a 69 anos (vacinadas mais
recentemente), aumentou 158%. Entre pessoas de 20 a 69, 214%.
Pouca gente recebeu duas doses no Brasil,
9% da população total, ante 36% nos EUA. Hoje, há doses disponíveis, já
entregues, para vacinar totalmente 20% da população total e 27% daqueles com 18
anos ou mais. Na previsão esperançosa realista, até o final de junho haveria
doses disponíveis para vacinar totalmente 48% da população total e 36% dos
adultos.
O cronograma “esperançoso realista” deve se
confirmar em maio. Para junho, há grande risco de apagão. O Butantan ora não tem
perspectiva de receber matéria-prima da China. A Fiocruz tem
material para entregar doses até a primeira semana de junho. É a Fiocruz que
deve garantir o grosso das entregas de maio e junho (62% do total).
Como não temos governo, o que resta do
Congresso tem de perguntar os
motivos e riscos de atraso na entrega de matéria-prima da China,
para que se tome alguma providência (Jair Bolsonaro continua a sabotar o
processo).
Na melhor das hipóteses, apenas daqui a três meses chegaremos à taxa de vacinação dos EUA. Não há estudos precisos sobre efetividade, transmissão ou capacidade dos imunizantes de conter cepas novas e, dada a ainda enorme circulação do vírus, podemos criar ou disseminar bichos ruins. Ainda não há perspectiva de nos desmascararmos.
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