Quando vi a divulgação do LED pela primeira vez, pensei "Essa tá no papo". Isso por conta de meu O Livro Negro do Açúcar que está de graça na internet há mais de 15 anos.
Mais de três milhões de projetos
educacionais se inscreveram no Movimento LED, uma iniciativa da Globo e da
Fundação Roberto Marinho. Bom saber que tanta gente se preocupa com educação no
Brasil.
O Movimento LED é uma iniciativa para por panos quentes na cabeça de nossa elite descendente das capitanias hereditárias, envergonhada com o país que construíram marcado pelos extremos entre bilionários e moradores de rua. Cristovam Buarque escrevendo sobre isso constatou que o Brasil possui três tipos de fome: fome de comida, fome de moral e fome de educação. No Brasil 33 milhões de pessoas passam fome propriamente dita. A fome moral e a dos que comem bem, mas assistem essa tragédia sem indignação e nem inteligência para perceber o custo social disso. A fome de educação se manifesta, no seu extremo, na quantidade de analfabetos que o Brasil possui 13 milhões de analfabetos. A pequena Cuba já erradicou o analfabetismo.
Os seis projetos contemplados pelo
Movimento LED todos se enquadram no padrão clássico da educação: espaços que
envolvem professores e alunos na forma de cursinhos. Duas iniciativas fogem
desse padrão: o Desengaveta meu texto e Adote uma escola. Chama atenção o
privilégio às iniciativas voltadas para o "andar de baixo", para as
minorias: meninas, mulheres e jovens da periferia. O espaço Quilombo Guarani
foi contemplado. O que tem a ver como vimos com a consciência da elite.
Por que acho que O Livro Negro do Açucar
tinha que ser contemplado? Vou relatar aqui apenas os fatos envolvidos depois
da publicação do livro como um pdf grátis na internet. Mal foi colocado no ar
no ano de 2006, o livro foi usado na bibliografia de um trabalho universitário
do Dpto de História da Universidade Federal de Pernambuco: O Doce Amargo: os
usos e abusos do consumo de açúcar, por Andréa Fabiana et al. A principal
divulgadora do pdf foi a engenheira de alimentos da Universidade Estadual
de Feira de Santana, Jean Marcia Mascarenhas, que colocou link para baixar
o livro em sua página. A professora Ariellen Candido de Educação Física de
Brasília adotou o livro em sala de aula. A revista Unisinos Online da
Universidade do Vale do Rio do Sinos me entrevistou. Fui entrevistado por Leda
Nagle e Roberta Zampetti das TVs Educativas de seus estados, Rio de Janeiro e
Minas Gerais. E dei entrevista ao Sr. Ulisses Riedel do Canal Supren da União
Planetária, esta entrevista está no You Tube. E o portal Academia.Edu registra
citações minhas em mais de 700 publicações (ainda não suprimi os homônimos).
Links para baixar meu livro também foi colocado num sem números de blogs de
médicos, dentistas, nutricionistas. O doutor Lair Ribeiro me telefonou para me
elogiar pelo livro.
Não se trata de um livro comum, mas o
instrumento de uma causa. O objetivo é a aprovação de uma segunda Lei Áurea. A
primeira libertou os negros da produção de açúcar. A segunda é para libertar os
escravos do consumo de açúcar. A situação atual é esquizofrênica: a OMS pede
para que as pessoas não consumam mais do que 25 gramas de açúcar por dia.
Quando um refrigerante de 600 ml tem 60 gramas de açúcar. Isso porque a OMS não
sabe que o açúcar é o responsável pelo conjunto das doenças crônicas,
metabólicas e degenerativas. Nem que a carie é a principal dessas doenças,
carie que é uma pandemia mundial permanente. A Bíblia em Exodo 21 26-27
diz "Se alguém quebrar um dente do seu escravo, ele terá de ser libertado.
O mesmo vale para uma escrava". Hoje no Brasil temos 40 milhões de pessoas
sem um dente sequer na boca para contar essa triste história. Nossos edêntulos
totais.
O que está em causa é a saúde pública. E o
Movimento LED é completamente alheio a esse problema. O Programa de Inclusão
Social Produtiva contemplado pelo LED que treina mulheres da periferia para
entre outras coisas produzir confeitos fez propaganda de um Bolo de Pote. Uma
porcaria açucarada que vai causar cárie, obesidade, diabetes e demais doenças
crônicas. Para a gente ter uma ideia de como o LED está por fora. Aqui no
Espírito Santo tem uma escolinha que pode ser chamada de Escolinha Zero Açúcar.
Porque o açúcar é literalmente proibido de entrar no que as crianças comem. O
nome da Escola de primeiro grau é Bem Te Vi. No Bar do Joãozinho na praia de
Marataízes ele me disse que a Coca-Cola sem açúcar sai mais que a porcaria
açucarada. Pelo visto a sociedade está na frente do LED um movimento que
pretende jogar luz na educação.
*Fernando Carvalho é historiador, formado
pela Universidade Federal Fluminense (UFF), autor de “Livro Negro do Açúcar
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