Valor Econômico
O Brasil estará muito bem posicionado se
conseguirmos demonstrar nossa capacidade de celebrar as nossas eleições com
altivez e valores
Inacreditável como aspectos da história retornam.
Estudar a história nos permite entender como tendemos a repetir os mesmos
padrões de comportamento, independentemente dos avanços tecnológicos. Guerra,
inflação e visões políticas extremadas do mundo sendo articuladas como panaceia
à miríade de problemas atuais.
Não é a primeira vez que vemos isso, e o
século XX tem inúmeros exemplos que demonstram o que a corrida pelo poder ou a
hegemonia causaram de dor e miséria.
Estamos em uma fase pós-pandemia e um
conflito armado acionou uma nova forma de guerra: a econômica. A inflação será
sentida por todo o planeta e impactará cada um de nós, trazendo inegavelmente
um acirramento das condições socioeconômicas de muitos. Isso tudo após dois
anos de uma pandemia que seria inimaginável que pudesse acontecer.
Além das grandes incertezas econômicas no planeta, vivemos uma fase de simplificação excessiva acerca de problemas complexos: redesenho feroz de cadeias de suprimento, fretes marítimos em mãos de poucas empresas - impondo aumentos em mais de 60% em dólares nos últimos anos -, a transição energética se tornando mais política e menos científica, além da tecnologia gerando novos modelos, mas colapsando o que ainda sobrou da revolução industrial.
Não há uma economia forte na ausência de um
modelo político forte com uma democracia que se renova. Boa regulação é
fundamental; excesso ou ausência da mesma prolifera o pior de uma economia de
mercado. Sou um entusiasta da importância de agências reguladoras lideradas por
equipes independentes, competentes tecnicamente e capazes de ajudar a dirimir
novos dilemas em uma sociedade tecnologicamente voraz. A Anvisa se mostrou um
bom exemplo disso.
Ataques à democracia enfraquecem o tecido
econômico em médio prazo. Críticas são fundamentais, e nenhuma instituição está
imune a ser criticada, mas há uma diferença importante entre a crítica
promovendo a mudança e o ataque promovendo a desconstrução. Imagine se as
eleições deste ano, portanto a democracia, fossem exaltadas em cada discurso de
cada candidato concorrendo a cargos políticos.
Líderes empresariais precisam demonstrar
continuamente o apoio ao fortalecimento das nossas instituições. Um
professor(a) é uma instituição em si. Promove o único processo democrático de
ascensão socioeconômico: a educação. A valorização de um professor vai além de
fomentarmos remuneração e formação corretas, mas pelo respeito que a sociedade
exibe à posição que representa. O mesmo pode ser dito sobre o/a bombeiro/a, o/a
policial, o/a médico/a e outras profissões. Em um ano eleitoral, temos uma
grande oportunidade de demonstrar nossa maturidade como nação. Sei que muitos
não acreditam. Eu acredito.
Muitos se sentem desesperançados. Quando
olho ao redor do mundo, sigo otimista com o Brasil. O sonho brasileiro tal qual
o sonho americano só será possível se nós, como sociedade, nos recusarmos a
desistir de nós mesmos. Sim, é muito difícil. Às vezes, existirão os
aproveitadores com fórmulas mágicas ou com modelos ou políticas que visam se
aproveitar da desesperança. Existem cérebros privilegiados em nosso país e
líderes irrefutáveis. Precisamos todos ajudar mais, não adicionando mais
verdades absolutas, mas dúvidas de como juntos podemos seguir construindo uma nação
mais próspera e justa. Isso só a política pode fazer e a economia segue.
O Brasil saiu na frente no combate à
inflação. Estamos tendo um desempenho da economia melhor do que o esperado.
Desemprego ainda alto, mas abaixo de dois dígitos, sinais irrefutáveis que em
uma base relativa tomamos uma série de decisões corretas. Tendo dito isso, a
miséria também aumentou - paradoxos do mesmo sistema.
Os grandes grupos multinacionais estão
nesse momento revendo sua base geográfica industrial. A dependência do modelo
chinês se mostrou uma vulnerabilidade que muitos irão rever. O Brasil estará
muito bem posicionado se conseguirmos demonstrar nossa capacidade de celebrar
as nossas eleições com altivez e valores. O resultado não importa, o que
importa é o exercício da vontade de cada um de nós. Parece pouco, mas sem esse
direito fundamental não se pode pensar em um futuro próspero.
A economia agradece.
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