O Globo
Na campanha, Lula atacou Jair Bolsonaro por
discursos e homenagens a milicianos. Eleito, entregou o Ministério do Turismo a
uma deputada que mantém laços políticos com a mesma turma.
A nomeação de Daniela Carneiro, que se
apresentava até outro dia como Daniela do Waguinho, criou desgaste
desnecessário para o novo governo. Além de expor a contradição entre discurso e
prática, o caso escancara a falta de critério nas últimas escolhas para a
Esplanada.
A ministra foi indicada pelo União Brasil, resultado da fusão do PSL com o DEM. Ao celebrar o acordo, Lula fez mesuras ao “companheiro” Luciano Bivar, que alugou seu antigo partido para o capitão em 2018. Todos os presidentes são obrigados a engolir sapos, mas é preciso algum cuidado para evitar a indigestão. Neste caso, uma consulta ao Google poderia ter poupado o petista do desconforto.
Como indica seu nome de urna, Daniela é
casada com Waguinho, chefe do União Brasil no Estado do Rio. Prefeito de
Belford Roxo, ele confiou seu Departamento de Ordem Urbana a um miliciano
condenado a 22 anos de prisão por homicídio. O caso foi revelado pelo Extra em
2020. Em outubro passado, outra reportagem da Folha de S.Paulo mostrou como
Belford Roxo se tornou um curral eleitoral armado, onde fazer campanha contra o
prefeito virou atividade de risco.
Às vésperas do segundo turno, Waguinho
promoveu um leilão de apoio político. Na mesma semana, reuniu-se com Lula e
Bolsonaro. Fechou negócio com o petista, que se encantou com a ideia de
alavancar a performance na Baixada Fluminense. O acordo se mostrou mais
vantajoso para o prefeito do que para o presidenciável. Do primeiro para o
segundo turno, Lula ganhou míseros 4.757 votos no município. Waguinho não
entregou o que prometeu, mas emplacou a mulher na Esplanada.
Não há saída fácil para a encrenca. Se
mantiver a ministra, o presidente começará o governo sob uma sombra incômoda,
ainda que não tenha as notórias ligações da família Bolsonaro com a milícia. Se
rifá-la, pode enfrentar represálias dos novos aliados. Daniela negou relação
com o crime e indicou que não está disposta a pedir o boné, o que aumenta o risco
político de uma eventual demissão.
O caso também arranha a imagem de Marcelo Freixo, que foi preterido na distribuição de ministérios e aceitou o cargo de presidente da Embratur. O deputado se projetou ao denunciar a influência da milícia na política do Rio. Agora estreia no governo subordinado ao clã de Belford Roxo.
2 comentários:
Lamentável manchar desse jeito um começo de governo tão bafejado de esperança num recomeço verdadeiro.
Pois é,uma simples rastreada no Google teria evitado o constrangimento.
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