Por Fabio Murakawa e Marta Watanabe / Valor Econômico
Proposta tem cinco objetivos, e americano defende que lucros das empresas se traduzam em salários mais altos
O presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, assinaram ontem, em Nova York, uma parceria conjunta para melhorar as condições de trabalho nos respectivos países. A iniciativa, segundo Lula, será levada aos fóruns internacionais nos quais irá participar.
Após a assinatura da “Iniciativa Global Lula-Biden para o Avanço dos Direitos Trabalhistas na Economia do Século XXI”, o americano defendeu que os pobres tenham oportunidade de subir na vida e que os lucros das empresas se traduzam em salários mais altos.
“Nós precisamos empoderar os trabalhadores. Disso se trata essa parceria”, disse, completando que a ideia foi de Lula.
A proposta, afirmou Biden, tem cinco objetivos. O primeiro, disse, é proteger o direito dos trabalhadores, combatendo trabalho infantil e trabalho forçado.
O plano visa, além disso, garantir trabalho seguro. “Isso passa por responsabilizar as empresas sobre impactos das atividades sobre a saúde e os salários dos trabalhadores.”
Também faz parte da proposta garantir o avanço na transição de fontes renováveis para os trabalhadores, fazendo com que esse processo aconteça de forma justa. Outro objetivo destacado foi atacar discriminação no lugar de trabalho, “para que ninguém seja deixado para trás”. Em parceria com movimentos trabalhistas, disse Biden, “vamos promover trabalho de qualidade, através inclusive de negociação coletiva”.
Em encontro antes da assinatura do documento, Lula disse que a parceria permite elaborar um plano de trabalho para oferecer à juventude perspectiva de emprego decente e mais qualificado. Mudanças como transição climática e inteligência artificial, disse, precisam ser considerados para isso.
“Nunca tinha visto um presidente americano falar tanto e tão bem dos trabalhadores”, disse Lula. “Uma combinação perfeita porque eu venho do mundo do trabalhador e acho que o trabalho está muito precarizado, o salário está muito aviltado, com trabalhadores trabalhando mais e ganhando menos.”
Nunca tinha visto um presidente americano falar tanto e tão bem dos trabalhadores” — Lula
Biden tem tentado se aproximar do sindicalismo americano e vem adotando políticas para fortalecer os sindicatos dos EUA. Ele concorre à reeleição em 2024 e fez o lançamento de sua campanha, em julho último, em um evento organizado por líderes sindicais na Pensilvânia. Lula, por sua vez, iniciou sua vida política nas greves dos operários no ABC Paulista, na década de 1970.
Após assinatura da parceria, Lula enfatizou que a parceria toca em questões de caráter global. Ele citou dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), pelos quais há no mundo hoje 2 bilhões de trabalhadores informais. Também citou medidas do seus oito meses de governo, como a criação de 1,2 milhão de empregos formais, reajuste do salário mínimo acima da inflação “depois de sete anos” e a lei que equipara salários de homens e mulheres em mesma função, aprovada neste ano pelo Congresso.
“Instalamos mesa de negociação entre sindicalistas, governos e empresários. E essa mesa está para construir não apenas perspectiva de emprego decente em função das plataformas que oferecem emprego precário, mas também porque queremos criar um novo marco de funcionamento na relação capital e trabalho”, disse.
Lula também defendeu os sindicatos de trabalhadores. “Todas as pessoas que acreditam que sindicato fraco vai fazer com que empresário ganhe mais que o país fique melhor, está enganado. Não há democracia sem sindicato forte.”
O presidente brasileiro disse que a parceria com os americanos fará com que a transição energética seja uma oportunidade extraordinária para reindustrializar e fazer com que empregos sejam de qualidade. “Esta iniciativa do trabalho decenteserá levada por mim em todos os fóruns internacionais que eu participar”, afirmou Lula, citando G-20, Brics e Cúpula da Amazônia.
O documento assinado ontem vem sendo negociado há meses pelos dois governos. No último dia 16 de agosto, Lula e Biden conversaram por telefone para tratar dos preparativos para o lançamento da parceria, às margens da Assembleia-Geral das Nações Unidas. Um dos alvos são os aplicativos, cujas relações com os trabalhadores vem sendo alvo de críticas de Lula desde sua campanha à Presidência, no ano passado.
O acordo entre Lula e Biden foi elogiado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que também está em Nova York. Segundo ele, uma das consequências da parceria é que uma delegação de empresários americanos irá ao Brasil nas próximas semanas. (Colaboraram Natasha Madov, de Nova York, e Rafael Vazquez, de São Paulo)
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