Valor Econômico
Para secretária de Comércio Exterior do Mdic,
situação exige atenção, mas, neste momento, não é caso de alarme
A cena impressiona. Com uma câmera acoplada à
própria cauda, um helicóptero camuflado em tons de deserto se aproxima de um
navio e pousa sobre o convés. Seis homens armados com fuzis de assalto
desembarcam e, em formação militar, avançam sobre o piso branco. Passo a passo,
vão conquistando o barco que, consideram, tem conexões com Israel e, por isso,
não poderia trafegar pelo Mar Vermelho.
Um ponto crítico é o Estreito de Bab-el-Mandeb, passagem de 32 quilômetros de largura na comunicação com o Oceano Índico. Em árabe, o nome do acidente geográfico significa “Portão das Lágrimas”, e não por acaso: é uma referência aos perigos para quem tenta por lá trafegar, como correntes marítimas, ventos, conflitos e piratas. Neste caso, contudo, está em curso mais um ataque dos houthis, grupo rebelde do Iêmen apoiado pelo Irã.
O grupo avança. O homem mais atrás também
registra tudo por meio de uma câmera corporal. Em pouco tempo, eles chegam à
ponte de comando da embarcação, rendem os tripulantes e consumam o sequestro do
navio.
O material foi veiculado nas redes sociais e,
depois, transmitido pelos principais veículos da imprensa internacional.
Justificável: as ações do grupo, além de terem gerado uma segunda frente na
guerra no Oriente Médio, têm provocado o estrangulamento de uma das principais
rotas do comércio global.
No Brasil, a situação também é acompanhada de
perto por autoridades federais.
Tatiana Prazeres, secretária de Comércio
Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços
(Mdic), trabalha para identificar possíveis impactos por meio da análise de
dados e conversas com os setores produtivos. Para ela, a situação exige
atenção, mas, neste momento, não é caso de alarme.
A instabilidade geopolítica reduz a
previsibilidade, diz ela, e o potencial acirramento do conflito é um risco para
a economia global em um ano em que o crescimento projetado já não era dos
melhores. Há preocupação com os custos associados à adoção de rotas
alternativas. Um impacto possível se daria na inflação global, devido à redução
de disponibilidade de contêineres e ao aumento da demanda por combustíveis.
Nesse contexto, observa-se os efeitos
colaterais na política monetária nos Estados Unidos e, consequentemente,
eventual influência no ritmo de cortes de juros no resto do mundo e, claro, no
Brasil.
“O desvio de rota está acontecendo”, comenta,
citando dados do Fundo Monetário Internacional (FMI): o número médio de navios
que passaram na última semana pelo estreito foi de 41, ante 67 em igual etapa
do ano passado. E também há queda no trânsito do Canal de Suez. Nesse caso, de
73 para 54 no mesmo período.
Em contrapartida, vê-se um aumento do tráfego
pelo Cabo da Boa Esperança, que contorna a África. Nos últimos sete dias,
passaram pelo local, em média, 70 navios. Um ano antes, o número chegava a 40.
Falando especificamente do Brasil, os dados
mostram que há sinais de efeitos negativos em portos nacionais, principalmente
em relação ao fluxo de exportações. Mas relativamente baixos, se comparados a
outros países. A percepção da Secex é que pode ocorrer um aumento do custo dos
fretes, mas não necessariamente uma redução no volume de exportações. Os dados
mais recentes da balança comercial ainda não captam danos provocados pela
situação no Mar Vermelho.
O comandante da Marinha, almirante Marcos
Sampaio Olsen, também monitora o assunto. Ele, aliás, acumula a função de
autoridade marítima do Brasil. Cuida da regulamentação e do controle dos
transportes aquaviários quanto à segurança da navegação e proteção do meio
ambiente marinho, representando o Brasil em fóruns internacionais que tratam
desses temas.
“Esse novo foco de confrontação produz
impactos severos à economia mundial, porquanto afeta diretamente as linhas de
comunicação marítimas (LCM), que são as principais vias de trocas comerciais
entre as sociedades desde a Antiguidade”, diz ele. “Algumas companhias
decidiram evitar o tráfego marítimo pela região, da ordem de 10% a 15% de todo
o comércio mundial, passando a contornar o continente africano por oeste,
retardando e encarecendo sobremaneira esses fluxos comerciais.”
Olsen lembra que, ao colocar esses ataques em
perspectiva junto com questões que envolvem outros pontos de estrangulamento da
navegação internacional, como a saturação do Canal do Panamá e a posição do
Canal de Suez em região de frequentes beligerâncias, “toma-se consciência da
criticidade das LCM para países de comércio internacional marítimo pujante,
como é o caso do Brasil, que também tem, no mar, uma de suas fontes primárias
de energia, o petróleo, além de uma imensidão de recursos vivos e minerais em suas
águas jurisdicionais”.
Ele acrescenta: “São alertas eloquentes que
não podem passar despercebidos. Ingênuos são os que supõem que o Brasil, país
pacífico, possuidor de excelentes relações com seus vizinhos e reconhecido como
um importante interlocutor para o incremento da paz e da segurança
internacionais, estaria isento dessas ameaças”.
Olsen tem participado diretamente das
articulações para a aprovação de uma proposta que eleva o orçamento anual das
Forças Armadas e reserva 1% do Produto Interno Bruto (PIB) anual para essa
finalidade. A área econômica resiste. Mas a PEC deve ser prioridade da Defesa.
Um comentário:
E o PT, por meio de seus blogues sujos, dando apoio a este braço armado terrorista do regime ditatorial do Irã que é o grupo terrorista Houthis.
■Se fosse um esquema do bolsonarismo o petismo estaria fazendo o contrário e denunciando os terroristas do Houthis junto com todos nós.
=》Ao denunciar junto com todos nós os esquemas autoritários a que o bolsonarismo se associa -Trump, Bukele, Duterte... , o PT se finge de democrático. Mas o PT faz um jogo associado à autoritários que é mais pesado ainda que o de Bolsonaro.
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