O Globo
O carro elétrico não é problema, é solução
Ricardo Bastos, presidente da guilda dos
carros elétricos, mostrou, numa entrevista ao repórter Eduardo Sodré, que o
Brasil pode perder o bonde de um novo salto industrial:
— Você pode escolher se fechar, se esconder e
postergar um problema que vai atingi-lo daqui a um par de anos ou um pouco
mais. Em 2023, as exportações brasileiras [de veículos] começaram a cair. E não
podemos culpar a Argentina, porque existem outros mercados que cresceram, como
o mexicano.
Bastos defende os interesses de sua guilda, e os números sugerem que ele deve ser ouvido. A chinesa BYD ultrapassou a Tesla na produção de carros elétricos. Quando Juscelino Kubitschek fez-se fotografar ao volante do primeiro Volkswagen, a China produzia bicicletas. Há dez anos, fabricava carros, mas exportava pouco. É possível que em 2030 o Império do Meio tenha um terço do mercado mundial de veículos.
Enquanto isso, Pindorama trata o carro
elétrico como se fosse um cisco incomodando o olho. Lida com o que lhe parece
ser um problema onerando as importações, sem um programa agressivo de
transformação de sua indústria automotiva. Parece um erro novo, mas é coisa
velha.
O patrono da indústria brasileira é o Barão
de Mauá. Faliu. Ele navegou no Amazonas, produziu
barcos e abriu ferrovias. Aqui e ali, culpou o governo pela sua ruína. O Brasil
entrou deliberadamente tarde no mundo das ferrovias. Quando chegou, atrasado,
ao tempo dos automóveis, afogou o transporte ferroviário. O raio caiu duas
vezes no mesmo lugar.
O sábio Warren Buffett já ensinou que, quando
surge uma tecnologia nova, o empresário não deve correr atrás, pois, de maneira
geral, a maioria dos pioneiros acaba quebrando. Diante da nova tecnologia, o
que se deve fazer é saltar da velha. Por exemplo: se apareceram os bondes
elétricos, vendem-se os burros. Se apareceram automóveis, venda seus cavalos.
Olhando para trás, quando surgiu a energia a
vapor, o negócio era se livrar dos negros escravizados, mas, na terra das
palmeiras, esperou-se até 1888. Errou-se porque prevaleceram interesses
estabelecidos. Mas nem sempre errou-se.
Presidentes visionários criaram o Instituto
Tecnológico de Aeronáutica e a Embrapa. Estão aí a Embraer e o agronegócio para
mostrar que vale a pena olhar para a frente. Foi na Embrapa que se criou a
semente de soja que brotava no Cerrado. Basta ouvir quem fala do novo.
Na contramão, atendendo a alguns espertalhões
da indústria eletrônica e a meia dúzia de militares interessados em boquinhas,
o Brasil fechou seu mercado aos computadores estrangeiros. Para ter uma ideia
do que se dizia, à época ouviu-se o seguinte:
— O Brasil não pode deixar que os dados
bancários de uma pessoa circulem numa rede estrangeira.A eletrificação dos
veículos veio para ficar. Quem os produz com a tecnologia velha defende seus
interesses, mas o governo não tem motivos para se associar a essa blindagem. O
preço dessa opção será a preservação de um parque industrial condenado ao
sucateamento. Uma indústria pode precisar de proteção, mas isso não a torna
mais competitiva. Os barões da indústria automotiva estão sentados em cima de
70 anos de proteção.
A exportação de proteínas cresce, e a de
veículos encolhe. O agronegócio sabe se transformar, já o baronato da atual
indústria automotiva sabe se proteger.
4 comentários:
■■■O mundo está passando a ser movido por energia elétrica armazenada em baterias.
■Mas talvez não o Brasil. Pelo menos não com um produto nacional, mais uma vez.
■O novo não será só o carro elétrico, mas também o navio elétrico, o avião elétrico...
...e o que será o produto industrial nobre desse modo de vida movido a energia armazenada:: a BATERIA ELÉTRICA.
■■Na cabeça das atrasadas forças políticas brasileiras não falta só neurônios; falta ter os elétrons certos emaranhando as células nervosas!
■Geraldo Alckimin anunciou que o Brasil estará doando à indústria automobilística antiga R$19Bilhões para ela modernizar seus produtos. Deveriam usar estes R$19Bilhões para o Brasil começar a abandonar esses produtos; e aproveitar para que os produtos da nova geração sejam produtos brasileiros e não produtos chineses, como parece querer o governo.
Progresso não se faz exatamente com dinheiro, mas com dinheiro aplicado no lugar certo::
■Os R$19Bilhões que Lula e Alckmin estão doando sem motivos para a indústria automobilística suja e estrangeira é dinheiro suficiente para termos produtos brasileiros dessa nova geração de caixotes com rodinhas, só que movidos a energia elétrica armazenada em baterias.
Como assim, "sem motivos"? O Brasil vem privilegiando a indústria automobilística há sete décadas! O transporte individual e privado vem sendo dotado de privilégios ano após ano. E os antigos metalúrgicos do ABCD, agora erigidos em governantes, estão a repetir o mesmo que fizeram nos governos anteriores. Eles migrarão do petróleo para a eletricidade conforme os ventos vierem a soprar, meus caros!
■■Eu sei!
■O PT é atrasado como os mais atrasados dos governos anteriores.
■Eu sei e lamento muito!
Se tem quem ache que há motivo em gastar R$19Bilhões [0.2%doPIB] só para subsidiar indústria suja, quando a ciência grita desesperada para deixarmos de ser estúpidos e sairmos depressa do meio da fumaça e respirar, que ache que há motivo quem quiser.
R$19Bilhões é muito dinheiro; é dinheiro que dá para começar a revolucionar os transportes com outro modelo de negócios.
■E, sem xenofobia por origem de capital e nem nacionalismo bairristas, mas com R$19Bilhões nós podemos ter um produto nosso, limpo, tecnologicamente moderno e que conta com enorme e crescente mercador internacional para exportação.
Vram-Vramm...
Ops.: está engasgando.
■Que fumaceira!
Vou de moto.
Rantantantantantan
Rantantantantantantann
■Nada, só ameaça pegar.
Vou com o carro engasgando assim mesmo:
■Vrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaan...
O colunista abordou apenas um assunto dessa vez.
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