Folha de S. Paulo
A China foi ofendida por Bolsonaro, mas nem
por isso investiu contra os brasileiros como faz Trump
Governadores
que pretendem representar a direita na disputa presidencial de 2026
insistem em responsabilizar o presidente Luiz Inácio da Silva (PT) pela crise
com os Estados
Unidos.
É a maneira confortável que acharam para se distanciar das ações bolsonaristas. A desonestidade mental na construção de versões não deixa de ser um direito inalienável de seus autores, embora o truque encontre na realidade um poderoso obstáculo.
Verdade que Lula não
precisaria ter contaminado a relação entre os dois países com a doença infantil
do antiamericanismo. Mais condizente com a tradição diplomática do Brasil teria
sido manter a tradição de neutralidade, mas está feito e, pelo jeito, não vai
mudar.
Ademais, a ofensiva de Donald Trump não
atingiu apenas adversários ideológicos. Alcançou governos politicamente
amigáveis como a Índia,
também sancionada com tarifas de 50%. Portanto, as posições de Lula podem
até compor a cena, mas não servem como justificativa nem explicam o todo até
agora sem explicação razoável.
Os governadores de São Paulo, Paraná, Minas
Gerais e Goiás certamente não estão acometidos por um surto de amnésia. Devem
se lembrar muito bem do tratamento que o então governo de Jair
Bolsonaro (PL),
apoiado por eles, reservava à China, da mesma
forma por razões ideológicas.
O maior parceiro comercial do Brasil, à época
visto como ameaça comunista, foi alvo de declarações ofensivas, de retórica
agressiva e até culpado pela pandemia
da Covid-19.
Em protesto, a embaixada chinesa reagiu com
energia, mas nem por isso prejudicou a pauta de exportações nem tentou intervir
em nossas questões internas ou aplicar sanções a pessoas cujos atos
desagradassem a Pequim.
Pretensões eleitorais não autorizam ninguém a
distorcer os fatos de modo para moldá-los às suas conveniências. No caso, o que
temos é a figura de um agressor que decidiu acionar sua usina de punições para
dar asas à própria violência. Uma doença que um telefonema de Lula não cura.
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