O Estado de S. Paulo
Em vez de adultizar as crianças, que tal adultizar suas Excelências no Congresso?
O influenciador Felca fez um enorme bem ao
País ao unir a sociedade, o Congresso, o Planalto, esquerda e direita, governo
e oposição em torno de um tema de importância transcendental: o futuro. Falo
aqui da segurança das crianças e adolescentes de hoje e amanhã, num mundo
dominado por big techs e redes sociais sem regulamentação e responsabilidades.
O real teste da união em torno da proteção dos pequenos e pequenas, porém, começa nesta semana, quando o presidente da Câmara, Hugo Motta, reúne os líderes partidários para discutir a pauta de votação e a inclusão de projetos que tratam da sensualização e adultização precoce. É aí que a porca torce o rabo.
Se todos concordam que é urgente criar
mecanismos para proteger a saúde física e mental de crianças e adolescentes dos
ataques e da cooptação pela internet, essa união se desfaz quando o debate
entra nos detalhes, sobre quem - como e o quanto - terá deveres e poderá ser
responsabilizado e punido por abusos.
A racionalidade cede à polarização do País,
alvo de Donald Trump sob pretextos caluniosos de censura, ofensas aos direitos
humanos e até ditadura –e a duas semanas do início do julgamento do golpe.
Esquerda, centro e entidades ligadas a crianças e adolescentes, como Alana,
defendem o projeto do senador Alessandro Vieira (MDB-SE), aprovado no Senado e
com parecer do deputado Jadiel Alencar (Republicanos-PI) na Câmara.
Os bolsonaristas, porém, já começam a jogar
no ar os pretextos de Trump a favor das big techs: “o governo quer calar a
oposição”, “a esquerda quer censura”, “o alvo é a liberdade de expressão nas
redes”. E, quando o chefe da Casa Civil, Rui Costa, anunciou que vai enviar um
projeto para regular as redes, piorou. O novo discurso é que “Lula quer surfar
na onda Felca”.
O risco é de outra urgência brasileira ser
engolida pela polarização lulismo X bolsonarismo e não há Felca que dê jeito.
Ele já conseguiu expor a gravidade da questão e agilizar a prisão de Hytalo
Santos. Que seja a primeira de muitas não está a seu alcance convencer o
Congresso de que os direitos das crianças supera o das plataformas.
E aí? Fechar os olhos para a pedofilia e o
uso de IA para sensualizar imagens de crianças para criminosos? E os jovens que
se automutilam, são cooptados por bets e estranhos e têm seu futuro
comprometido? Exigir responsabilidade e mecanismos das plataformas para
prevenção, alerta e ação não é defender censura, é criar direitos, deveres e
respeito à cidadania.
Em vez de “adultizar” negativamente nossas
crianças, precisamos “adultizar” positivamente os legisladores que nós
elegemos.
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