Folha de S. Paulo
Grandes nomes do samba torcem pelo Vasco. Mas
outros, em muito maior número, são Flamengo
É conversa de botequim, mesmo. Um dos
esportes favoritos do carioca é fazer de qualquer pé sujo uma assembleia
permanente em defesa da cidade e de sua cultura —no caso, samba e futebol.
O historiador Marcelo Dunlop, uma autoridade em Flamengo,
lembrou-me o mito, sempre brandido pelos vascaínos, de que o Vasco,
e não o Flamengo, é o clube favorito dos sambistas. Com o que desfilam seu
respeitável plantel: Jamelão, Zé Kéti, Nelson Cavaquinho, Aracy de
Almeida, Paulinho da
Viola, Clementina de
Jesus, Nei Lopes, Martinho da Vila, Aldir Blanc. Todos, Vasco.
Dunlop contestou esse mito e escalou o seu Flamengo do samba. É um timaço: Ary Barroso; Dorival Caymmi, Ataulpho Alves, Carmen Miranda e Almir Guineto; Silas de Oliveira, Bezerra da Silva e Candeia; Wilson Baptista, Geraldo Pereira e, com o 10 às costas, Noel Rosa —para ele, o Galinho da Vila.
Eu contribuiria com um segundo time, à altura
do primeiro: Cyro Monteiro; Moreira da Silva, Orlando Silva, Cauby Peixoto e
Blecaute; João Nogueira, João Bosco e Moraes Moreira; Jorge Ben
Jor, Djavan e Caetano Veloso. E seria possível até um time
feminino: Elizeth Cardoso; Angela Maria, Dolores Duran, Elza Soares e Alcione;
Nana Caymmi, Fafá de Belém e Sandra de Sá; Baby Consuelo, Leila Pinheiro
e Zezé Motta.
São nomes incontestáveis, exceto talvez o
principal: Noel Rosa. Corre a praça há décadas que Noel não torcia por ninguém
nem gostava de futebol. Dunlop, implacável, convoca o VAR: Noel falou de
futebol em quatro sambas —"Conversa de Botequim", "Quem Dá Mais?",
"Mulher Indigesta" e "Tarzan, o Filho do Alfaiate". E
quanto a Noel ser Flamengo?
Em reportagem de 1936, a revista Carioca
afirma que Noel assistia a jogos noturnos e que seu craque preferido era
Fausto, a "Maravilha Negra", volante do Flamengo. E o primo e
biógrafo de Noel, Jacy Pacheco, autor de "Noel Rosa e Sua Época"
(1955), conta que ele tentou convertê-lo ao Flamengo. Como acreditar nisso?
Simples —Jacy estava acima de qualquer suspeita. Era botafoguense.
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