terça-feira, 16 de dezembro de 2025

A hora de Lira. Por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Lança-se hostil o 2026 de Arthur Lira; para Arthur Lira. Já este Natal de 2025 trouxe presente-revés para o ex-presidente da Câmara. A cassação de Glauber Braga lhe era objetivo pessoal. Foi derrotado, via censor Motta – talvez mesmo constante, no contrato que firmou pela ascensão de Huguinho, a cláusula-compromisso sobre o mandato do deputado psolista. Nada a ver com a agressão física geradora do processo. O menino não entregou. Perderam. Perdeu. (Aborrecido com a fraqueza do afilhado, o tutor Lira largou-lhe a mão.) Será a menor das derrotas.

A Operação Transparência, da Polícia Federal, projeta-lhe um futuro ameaçador. Ao autorizar buscas e apreensões contra uma ex-assessora de Lira, Flávio Dino preparou o campo, inscreveu os fundamentos, para agir contra ele diretamente. Questão de tempo, se a investigação for séria, se não for apenas mais uma investida para reafirmar o poder do STF sobre o Congresso. Não é ex-assessora qualquer. Nem ex-assessora será, ora lotada no gabinete da liderança do PP na Câmara. Ninguém é bobo.

Mariângela Fialek é Arthur Lira, gestora da obra de engenharia que transformou emenda parlamentar em orçamento secreto; que fez o esquema mudar de superfície sem prejuízo da causa, da emenda de relator à emenda de comissão; que perverteu parcela bilionária do Orçamento em propriedade privada, “direito adquirido”, de deputados e senadores; que transtornou bilhões de reais em espécie de fundo eleitoral paralelo que, disparado sem controle e fiscalização, seria também paraíso para enriquecimentos nas pontas; que erigiu modalidade autoritária de exercício de poder por meio da qual os donos do Parlamento, Lira entre esses poucos, controlam a formação de maiorias controlando a distribuição do dinheiro – controlando-escolhendo quem terá emendas para chamar de suas.

São investigados os crimes de peculato, falsidade ideológica, uso de documento falso e corrupção envolvendo emendas parlamentares. Segundo o procurador-geral da República, Fialek – que é Lira – trabalhava em benefício de uma “provável” organização criminosa que praticava delitos contra a administração pública. Dino autorizou a operação com base em depoimentos de deputados – entre os quais Glauber Braga – e dados extraídos de telefones celulares.

No despacho, o ministro – que às vezes confunde controle de constitucionalidade com tesouraria de emendas parlamentares – informou que “tais circunstâncias evidenciam fortes indícios de que a representada integra uma estrutura organizada voltada ao indevido direcionamento de emendas parlamentares, supostamente atuando sob ordens diretas da antiga presidência da Câmara dos Deputados, exercida pelo deputado Arthur Lira, fato que ainda está em apuração”.

Lira não é investigado. Ainda.

 

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