DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Que cenário poderemos esperar para a economia brasileira em 2011? Haverá continuidade no processo de crescimento acelerado? Há risco de descontrole das taxas de inflação?
Um dos grandes méritos do governo Lula foi o de enfrentar com rapidez e flexibilidade os desafios da crise econômica que se iniciou em 2008 nos EUA e se espraiou globalmente. O gasto público se expandiu, os bancos do governo federal ampliaram seus empréstimos e financiamentos, incentivos fiscais foram distribuídos para atividades econômicas (indústria automobilística, construção civil, eletroeletrônicos) que comandam poderosas cadeias produtivas. O resultado agregado foi um crescimento da nossa economia em ritmo anual de 7,5 %, enquanto os países mais desenvolvidos sofriam um processo de estagnação com taxas muito elevadas de desemprego.
Entretanto, a superação da crise trouxe em seu bojo um conjunto de restrições que irão provocar inflexões e descontinuidades de grande profundidade. A primeira delas é o risco de uma aceleração inflacionária, à medida que a expansão da demanda, principalmente do consumo privado e dos gastos correntes do governo, tem esbarrado nos limites da capacidade produtiva do País, no seu enigmático PIB potencial. Reverter esta aceleração significa políticas monetárias contracionistas com taxas de juros mais elevadas, rebatendo em menores taxas de crescimento econômico com todas suas mazelas no emprego e na distribuição de renda.
A segunda restrição está nas contas públicas, com o descontrole dos gastos ao longo dos últimos 18 meses. As despesas não financeiras do governo representam quase 20% do PIB de 2010. Uma implicação imediata será a necessidade de segurar as suas despesas de custeio (principalmente de pessoal) e de investimentos, praticando uma política fiscal que muito pouco contribuirá para gerar mais renda e mais emprego, embora ela seja funcional para manter a dívida pública sob credibilidade.
Finalmente, como os dólares não param de entrar no Brasil por causa de nossas crescentes exportações, da atração de investimentos externos diretos e das aplicações financeiras especulativas, o real é hoje uma moeda muito valorizada, que barateia as importações de bens e serviços e torna as exportações menos competitivas. Consequência: as contas externas caem no vermelho com o déficit da conta corrente crescendo fortemente ao longo dos últimos três anos.
Essas restrições, que devem levar a políticas econômicas indutoras de um crescimento econômico menor e de uma inflação mantida sob controle, nada têm de dramático. O Brasil dispõe de quase US$ 300 bilhões de reservas internacionais, as quais permitem flexibilizar a gestão de uma eventual crise cambial. As potencialidades econômicas do País estão em sintonia com os segmentos do comércio internacional que mais estão se expandindo atualmente em valor (minérios, metais, agronegócio e bioenergia). Essa sintonia é um fator de mobilização de um número significativo de grandes projetos de investimento. Da mesma forma, a expansão do mercado interno, pelos ganhos de produtividade e pela melhoria da distribuição de renda, torna o Brasil menos volátil e menos vulnerável ao ciclo de negócios na economia mundial.
De qualquer forma, não se pode contar com o fim da crise econômica mundial como um elemento favorável a mais para o cenário da economia brasileira em 2011. Embora tenhamos vivido vários momentos de instabilidade na economia mundial desde que houve um avanço do sistema financeiro sobre o lado real das economias nacionais, a partir dos anos 1970, a atual crise econômica e financeira apresenta características absolutamente inéditas, tornando difícil enquadrá-la nas crises das duas últimas décadas.
É a primeira grande crise após a profunda integração dos mercados financeiros de todos os países desenvolvidos e emergentes e de muitos outros menos desenvolvidos. Podemos estar no contexto em que ainda não sabemos o que não sabemos sobre esta crise.
Professor do IBMEC/MG. foi Ministro do Planejamento e da Fazenda.
Que cenário poderemos esperar para a economia brasileira em 2011? Haverá continuidade no processo de crescimento acelerado? Há risco de descontrole das taxas de inflação?
Um dos grandes méritos do governo Lula foi o de enfrentar com rapidez e flexibilidade os desafios da crise econômica que se iniciou em 2008 nos EUA e se espraiou globalmente. O gasto público se expandiu, os bancos do governo federal ampliaram seus empréstimos e financiamentos, incentivos fiscais foram distribuídos para atividades econômicas (indústria automobilística, construção civil, eletroeletrônicos) que comandam poderosas cadeias produtivas. O resultado agregado foi um crescimento da nossa economia em ritmo anual de 7,5 %, enquanto os países mais desenvolvidos sofriam um processo de estagnação com taxas muito elevadas de desemprego.
Entretanto, a superação da crise trouxe em seu bojo um conjunto de restrições que irão provocar inflexões e descontinuidades de grande profundidade. A primeira delas é o risco de uma aceleração inflacionária, à medida que a expansão da demanda, principalmente do consumo privado e dos gastos correntes do governo, tem esbarrado nos limites da capacidade produtiva do País, no seu enigmático PIB potencial. Reverter esta aceleração significa políticas monetárias contracionistas com taxas de juros mais elevadas, rebatendo em menores taxas de crescimento econômico com todas suas mazelas no emprego e na distribuição de renda.
A segunda restrição está nas contas públicas, com o descontrole dos gastos ao longo dos últimos 18 meses. As despesas não financeiras do governo representam quase 20% do PIB de 2010. Uma implicação imediata será a necessidade de segurar as suas despesas de custeio (principalmente de pessoal) e de investimentos, praticando uma política fiscal que muito pouco contribuirá para gerar mais renda e mais emprego, embora ela seja funcional para manter a dívida pública sob credibilidade.
Finalmente, como os dólares não param de entrar no Brasil por causa de nossas crescentes exportações, da atração de investimentos externos diretos e das aplicações financeiras especulativas, o real é hoje uma moeda muito valorizada, que barateia as importações de bens e serviços e torna as exportações menos competitivas. Consequência: as contas externas caem no vermelho com o déficit da conta corrente crescendo fortemente ao longo dos últimos três anos.
Essas restrições, que devem levar a políticas econômicas indutoras de um crescimento econômico menor e de uma inflação mantida sob controle, nada têm de dramático. O Brasil dispõe de quase US$ 300 bilhões de reservas internacionais, as quais permitem flexibilizar a gestão de uma eventual crise cambial. As potencialidades econômicas do País estão em sintonia com os segmentos do comércio internacional que mais estão se expandindo atualmente em valor (minérios, metais, agronegócio e bioenergia). Essa sintonia é um fator de mobilização de um número significativo de grandes projetos de investimento. Da mesma forma, a expansão do mercado interno, pelos ganhos de produtividade e pela melhoria da distribuição de renda, torna o Brasil menos volátil e menos vulnerável ao ciclo de negócios na economia mundial.
De qualquer forma, não se pode contar com o fim da crise econômica mundial como um elemento favorável a mais para o cenário da economia brasileira em 2011. Embora tenhamos vivido vários momentos de instabilidade na economia mundial desde que houve um avanço do sistema financeiro sobre o lado real das economias nacionais, a partir dos anos 1970, a atual crise econômica e financeira apresenta características absolutamente inéditas, tornando difícil enquadrá-la nas crises das duas últimas décadas.
É a primeira grande crise após a profunda integração dos mercados financeiros de todos os países desenvolvidos e emergentes e de muitos outros menos desenvolvidos. Podemos estar no contexto em que ainda não sabemos o que não sabemos sobre esta crise.
Professor do IBMEC/MG. foi Ministro do Planejamento e da Fazenda.
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