Escrever sobre um governo que começou há apenas 10 dias é como tentar entender um quebra-cabeças cuja montagem não está concluída. Os personagens reais – a presidente Dilma e seus ministros – já estão trabalhando, mas é provável que cada um esteja ainda um pouco incerto em relação ao comportamento dos demais, e que o conjunto também esteja algo incerto sobre o novo ambiente em que vão operar.
O problema é que nós que temos algo a ver com comunicação precisamos montar cá fora um outro quebra-cabeças, paralelo àquele que esbocei no parágrafo anterior. Neste momento, prevalece o velho ditado: o observador que estiver se sentindo inteiramente bem informado com certeza não está entendendo grande coisa.
Por essas e outras é que preferi começar auscultando as impressões iniciais de três craques : Ferreira Gullar, Dora Kramer e Marcelo Paiva Abreu.
Hoje, no Estadão, Ferreira Gullar pôs no papel o que milhões de brasileiros devem estar sentindo – aquela impressão de que a ficha só agora começou a cair: “Olho para [Dilma] e me pergunto: essa senhora é de fato a presidente do Brasil ou se trata de uma personagem de novela? Acredito até que ela, às vezes, se belisca para ver se é mesmo verdade. [Pois o fato] é que temos, diante de nós, agora, uma presidente da República que é uma surpresa até para si mesma. Eleita sem ter votos! É quase como um suplente de senador. O que não significa que fatalmente fará um mau governo, já que tudo é possível neste mundo surrealista latino-americano. Desejo-lhe boa sorte”.
O artigo de Dora Kramer a que vou me referir é o de anteontem. Com a precisão que lhe é peculiar, ela descreve a mudança de estilo que já se começa a sentir em Brasília.
Tomando como exemplo os passaportes especiais fornecidos a dois filhos e um neto do ex-presidente, ela observa: “…assim como vários outros episódios demonstraram ao longo de oito anos, é do estilo de Lula considerar irrelevante o preceito da impessoalidade consagrado na Constituição como exigência para o exercício das funções públicas”.
Dilma Rousseff parece-lhe ser o oposto: pontual, rigorosa nas cobranças e dona de um senso mais apurado que o de Lula para a distinção entre o público e o privado. Desprovida de talento ou inclinação para efeitos especiais, Dilma provavelmente percebe que seu governo deslanchará tanto melhor quanto menor a presença de Lula na mídia.
Economista de formação, Marcelo Abreu considerou animador o discurso de posse do novo presidente do Banco Central, mas pergunta se seus bons propósitos serão “…compatíveis com a possível, e até mesmo provável, continuidade da indisciplina fiscal”.
De que forma o problema do corte de gastos públicos será abordado – pergunta Marcelo – por uma equipe econômica que é essencialmente a mesma do mandato anterior e [que], no passado, sistematicamente optou por não optar, ou seja, que sempre preferiu aceitando aumentos ?
Acrescente-se que o embate entre os partidos situacionistas por postos no novo governo indicam um compromisso assaz duvidoso com qualquer corte relevante.
De fato, é difícil ver como Dilma Rousseff vai domar os apetites no Congresso se uma diretriz austera parece inexistir entre seus próprios ministros. As urgências maiores são a inflação e o câmbio, mas se lhe falta convicção para atacá-las pelo caminho fiscal, qual será então sua estratégia?
A observação que se impõe é, portanto, a de que o novo governo pode estar rodopiando muito mais que o necessário. Pois o que vem primeiro, afinal : a falta de uma agenda clara no Executivo ou o apetite do PT e do PMDB por cargos – desde sempre aguçado, como ninguém ignora ?
O problema é que nós que temos algo a ver com comunicação precisamos montar cá fora um outro quebra-cabeças, paralelo àquele que esbocei no parágrafo anterior. Neste momento, prevalece o velho ditado: o observador que estiver se sentindo inteiramente bem informado com certeza não está entendendo grande coisa.
Por essas e outras é que preferi começar auscultando as impressões iniciais de três craques : Ferreira Gullar, Dora Kramer e Marcelo Paiva Abreu.
Hoje, no Estadão, Ferreira Gullar pôs no papel o que milhões de brasileiros devem estar sentindo – aquela impressão de que a ficha só agora começou a cair: “Olho para [Dilma] e me pergunto: essa senhora é de fato a presidente do Brasil ou se trata de uma personagem de novela? Acredito até que ela, às vezes, se belisca para ver se é mesmo verdade. [Pois o fato] é que temos, diante de nós, agora, uma presidente da República que é uma surpresa até para si mesma. Eleita sem ter votos! É quase como um suplente de senador. O que não significa que fatalmente fará um mau governo, já que tudo é possível neste mundo surrealista latino-americano. Desejo-lhe boa sorte”.
O artigo de Dora Kramer a que vou me referir é o de anteontem. Com a precisão que lhe é peculiar, ela descreve a mudança de estilo que já se começa a sentir em Brasília.
Tomando como exemplo os passaportes especiais fornecidos a dois filhos e um neto do ex-presidente, ela observa: “…assim como vários outros episódios demonstraram ao longo de oito anos, é do estilo de Lula considerar irrelevante o preceito da impessoalidade consagrado na Constituição como exigência para o exercício das funções públicas”.
Dilma Rousseff parece-lhe ser o oposto: pontual, rigorosa nas cobranças e dona de um senso mais apurado que o de Lula para a distinção entre o público e o privado. Desprovida de talento ou inclinação para efeitos especiais, Dilma provavelmente percebe que seu governo deslanchará tanto melhor quanto menor a presença de Lula na mídia.
Economista de formação, Marcelo Abreu considerou animador o discurso de posse do novo presidente do Banco Central, mas pergunta se seus bons propósitos serão “…compatíveis com a possível, e até mesmo provável, continuidade da indisciplina fiscal”.
De que forma o problema do corte de gastos públicos será abordado – pergunta Marcelo – por uma equipe econômica que é essencialmente a mesma do mandato anterior e [que], no passado, sistematicamente optou por não optar, ou seja, que sempre preferiu aceitando aumentos ?
Acrescente-se que o embate entre os partidos situacionistas por postos no novo governo indicam um compromisso assaz duvidoso com qualquer corte relevante.
De fato, é difícil ver como Dilma Rousseff vai domar os apetites no Congresso se uma diretriz austera parece inexistir entre seus próprios ministros. As urgências maiores são a inflação e o câmbio, mas se lhe falta convicção para atacá-las pelo caminho fiscal, qual será então sua estratégia?
A observação que se impõe é, portanto, a de que o novo governo pode estar rodopiando muito mais que o necessário. Pois o que vem primeiro, afinal : a falta de uma agenda clara no Executivo ou o apetite do PT e do PMDB por cargos – desde sempre aguçado, como ninguém ignora ?
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