DEU EM O GLOBO
A indústria cresce a dois dígitos, há números fortes de importação de máquinas e equipamentos, o Nuci, índice que mede quanto da capacidade de produção está sendo utilizada, está alto. Mesmo assim, fala-se que o Brasil estaria passando por um período de desindustrialização. Difícil acreditar. Imagina se não houvesse importação, o que estaria acontecendo com a inflação?
O ponto máximo do Nuci da Fundação Getúlio Vargas foi nos anos 70, na época do milagre econômico, quando, por alguns meses, ele atingiu a marca dos 90%. Em fevereiro de 2009, estava em 77,6%; em dezembro passado, chegou a 84,9%. Isso, para esse indicador, o de utilização da capacidade instalada, é muito alto. E o número reflete uma média, porque há setores onde há taxas mais baixas, como siderurgia. Os segmentos de bens de consumo duráveis e não duráveis estão acima da média. O que está mais fraco é o de bens intermediários. A série longa da FGV não deixa dúvidas de que a indústria brasileira está produzindo fortemente para atender à demanda crescente.
- Só se poderia falar de desindustrialização se tivesse ocorrendo uma alta ociosidade da indústria em meio a uma economia aquecida - diz o economia Marcelo de Paiva Abreu, da PUC-Rio.
Marcelo diz que está claro que existe um problema no câmbio, mas que o Brasil tem atacado o país errado:
- O problema é o câmbio chinês, mas nos últimos tempos o Brasil tem criticado apenas os Estados Unidos. O país deveria ser um aliado caloroso do mundo na crítica à política cambial chinesa, que faz com que seus produtos concorram deslealmente.
O risco agora é repetir algumas velhas fórmulas que o Brasil já tentou no passado sem sucesso, ou pior, com resultados desastrosos, como o fechamento econômico. Brinquedo já teve sua tarifa elevada para o máximo permitido pelos nossos compromissos na Organização Mundial do Comércio. Outros setores que já têm tarifas altas, como a indústria automobilística, começam a fazer queixas mesmo quando batem recorde de produção.
Sempre quando o câmbio se aprecia, e alguns setores pedem proteção ou protestam contra a taxa de câmbio, uma parte do país se lembra que há uma agenda eternamente perdida que é a do Custo Brasil. Repete-se isso, porque na verdade os problemas nunca são enfrentados. Nem só de câmbio vive a competitividade de uma indústria, evidentemente. O país precisa tornar mais eficiente a logística. As estradas, portos e aeroportos congestionados e ineficientes fazem mais mal às exportações do que a valorização do real. A burocracia precisa ser menos hostil às exportações. Essa é uma parte da moeda.
A outra é aquela de sempre: o país precisa criar condições fiscais para a queda das taxas de juros.
- Precisamos fazer um reexame sério da questão fiscal brasileira e o déficit público não vai ser resolvido pelo lado da receita. Temos que examinar as despesas seriamente - diz Marcelo de Paiva Abreu.
Quando o dólar está baixo, há sempre pressões da indústria, principalmente paulista, de que se resolva o problema via elevação das tarifas de importação ou barreiras às compras externas. Mas onde é exatamente que um movimento assim nos levaria? Se desse certo, e o país conseguisse impedir as compras externas, certamente haveria mais pressão inflacionária. O argumento como o que está novamente sendo defendido pela Fiesp, como mostrou o "Estadão" de ontem, é que as importações estariam desestimulando a produção local. Há de fato casos de empresas que fecham suas unidades no Brasil e passam a produzir em outros países. Ontem, o jornal paulista falou da Vulcabras Azaleia e da Philips.
Por outro lado, o Nuci mostra que a indústria está produzindo a todo vapor. Nesse nível, ou ela investe para aumentar a oferta ou a demanda terá que ser mesmo atendida por produtos importados, do contrário, haverá inflação.
É inescapável reduzir os custos das empresas através de mais investimento em infraestrutura, redução de custos sobre a folha salarial, diminuição da burocracia e queda forte dos juros. Isso independentemente do nível da taxa de câmbio. O problema é que o país só olha para esta questão quando a moeda nacional está valorizada, como agora. Quando ela se deprecia, o ganho extra do exportador funciona como uma anestesia e o debate é deixado de lado.
O problema é sentido diferentemente: alguns produtos estão com dificuldade de exportação, outros, que tiveram alta no mercado internacional, como as commodities, não estão tendo dificuldade. Como em uma moeda, o problema aqui tem dois lados: o real apreciado e o Custo Brasil nunca enfrentado.
A indústria cresce a dois dígitos, há números fortes de importação de máquinas e equipamentos, o Nuci, índice que mede quanto da capacidade de produção está sendo utilizada, está alto. Mesmo assim, fala-se que o Brasil estaria passando por um período de desindustrialização. Difícil acreditar. Imagina se não houvesse importação, o que estaria acontecendo com a inflação?
O ponto máximo do Nuci da Fundação Getúlio Vargas foi nos anos 70, na época do milagre econômico, quando, por alguns meses, ele atingiu a marca dos 90%. Em fevereiro de 2009, estava em 77,6%; em dezembro passado, chegou a 84,9%. Isso, para esse indicador, o de utilização da capacidade instalada, é muito alto. E o número reflete uma média, porque há setores onde há taxas mais baixas, como siderurgia. Os segmentos de bens de consumo duráveis e não duráveis estão acima da média. O que está mais fraco é o de bens intermediários. A série longa da FGV não deixa dúvidas de que a indústria brasileira está produzindo fortemente para atender à demanda crescente.
- Só se poderia falar de desindustrialização se tivesse ocorrendo uma alta ociosidade da indústria em meio a uma economia aquecida - diz o economia Marcelo de Paiva Abreu, da PUC-Rio.
Marcelo diz que está claro que existe um problema no câmbio, mas que o Brasil tem atacado o país errado:
- O problema é o câmbio chinês, mas nos últimos tempos o Brasil tem criticado apenas os Estados Unidos. O país deveria ser um aliado caloroso do mundo na crítica à política cambial chinesa, que faz com que seus produtos concorram deslealmente.
O risco agora é repetir algumas velhas fórmulas que o Brasil já tentou no passado sem sucesso, ou pior, com resultados desastrosos, como o fechamento econômico. Brinquedo já teve sua tarifa elevada para o máximo permitido pelos nossos compromissos na Organização Mundial do Comércio. Outros setores que já têm tarifas altas, como a indústria automobilística, começam a fazer queixas mesmo quando batem recorde de produção.
Sempre quando o câmbio se aprecia, e alguns setores pedem proteção ou protestam contra a taxa de câmbio, uma parte do país se lembra que há uma agenda eternamente perdida que é a do Custo Brasil. Repete-se isso, porque na verdade os problemas nunca são enfrentados. Nem só de câmbio vive a competitividade de uma indústria, evidentemente. O país precisa tornar mais eficiente a logística. As estradas, portos e aeroportos congestionados e ineficientes fazem mais mal às exportações do que a valorização do real. A burocracia precisa ser menos hostil às exportações. Essa é uma parte da moeda.
A outra é aquela de sempre: o país precisa criar condições fiscais para a queda das taxas de juros.
- Precisamos fazer um reexame sério da questão fiscal brasileira e o déficit público não vai ser resolvido pelo lado da receita. Temos que examinar as despesas seriamente - diz Marcelo de Paiva Abreu.
Quando o dólar está baixo, há sempre pressões da indústria, principalmente paulista, de que se resolva o problema via elevação das tarifas de importação ou barreiras às compras externas. Mas onde é exatamente que um movimento assim nos levaria? Se desse certo, e o país conseguisse impedir as compras externas, certamente haveria mais pressão inflacionária. O argumento como o que está novamente sendo defendido pela Fiesp, como mostrou o "Estadão" de ontem, é que as importações estariam desestimulando a produção local. Há de fato casos de empresas que fecham suas unidades no Brasil e passam a produzir em outros países. Ontem, o jornal paulista falou da Vulcabras Azaleia e da Philips.
Por outro lado, o Nuci mostra que a indústria está produzindo a todo vapor. Nesse nível, ou ela investe para aumentar a oferta ou a demanda terá que ser mesmo atendida por produtos importados, do contrário, haverá inflação.
É inescapável reduzir os custos das empresas através de mais investimento em infraestrutura, redução de custos sobre a folha salarial, diminuição da burocracia e queda forte dos juros. Isso independentemente do nível da taxa de câmbio. O problema é que o país só olha para esta questão quando a moeda nacional está valorizada, como agora. Quando ela se deprecia, o ganho extra do exportador funciona como uma anestesia e o debate é deixado de lado.
O problema é sentido diferentemente: alguns produtos estão com dificuldade de exportação, outros, que tiveram alta no mercado internacional, como as commodities, não estão tendo dificuldade. Como em uma moeda, o problema aqui tem dois lados: o real apreciado e o Custo Brasil nunca enfrentado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário