A estabilização do preço das commodities agrícolas, que o Brasil tenta em vão privilegiar na agenda internacional desde a conferência de Bretton Woods em 1944, passou de repente a ser prioridade para os presidente da França, do Banco Mundial e para o diretor da Organização Mundial de Comércio.
Por que a súbita receptividade? Não teria havido volatilidade antes ou o tema apenas preocupa quando os preços sobem (raramente) e não quando desabam como durante a maior parte dos últimos cem anos?
Está em curso ação liderada pelo presidente Sarkozy para tentar controlar o preço dos alimentos na próxima reunião do G20, na França.
A iniciativa deve preocupar o comércio exterior e o agronegócio brasileiros. Ela patenteia a ingenuidade dos que acreditaram numa coincidência estratégica entre os interesses do Brasil e os da França, campeã dos subsídios e do protecionismo agrícola.
Da última vez em que os alimentos aumentaram (2008-09), chamei a atenção na Folha para estudo de Ocampo e Parra mostrando que a alta era só nominal e os preços estavam apenas se recuperando em termos reais.
Ao contrário do índice da FAO (Organização de Alimentos e Agricultura), que parte de base distorcida (1990, auge da queda), os autores do estudo compararam os preços com a média histórica de 1945 a 1980, fase de 35 anos de preços abaixo até da média histórica. Corrigiram as cotações nominais descontando a inflação do período.
Garantido por essas cautelas o estudo revela que: a) os produtos agrícolas sofreram nos anos 1980 colapso só comparável ao de 1920-21; b) a agricultura tropical foi a mais atingida pelo declínio de longo prazo dos preços; c) em 2008 os únicos produtos acima da média anterior (óleo de palma, trigo, bananas e borracha) não possuíam expressão na pauta exportadora do Brasil; d) continuavam muito deprimidos o cacau, o chá, o café, o algodão e o açúcar.
Valeria a pena que entidades brasileiras competentes atualizassem o estudo, utilizando a mesma metodologia. Duvido, no entanto, que o resultado seja muito diferente em relação ao obtido em 2008.
Lembro o precedente para alertar sobre o perigo de aceitar de modo passivo índices, estudos e campanhas que nos chegam com o selo prestigioso de organismos mundiais, escondendo estratégias adversas aos interesses brasileiros.
O problema das commodities agrícolas deve merecer atenção internacional, não apenas devido ao impacto dos preços em países importadores de alimentos.
É preciso não esquecer que a recente mudança para melhor no desempenho econômico da África e da America Latina não teria sido possível sem a recuperação das cotações de commodities.
O equilíbrio e a boa fé exigiriam também eliminar os subsídios dos ricos, que desestimulam a produção de alimentos em países pobres, tornando-os dependentes da ajuda alimentar.
Em seguida, impõe-se coibir a perniciosa especulação financeira em commodities.
Por fim, não se pode pensar em controlar preços agrícolas sem antes controlar fertilizantes, combustíveis e todos os demais insumos do setor que contribuem poderosamente para a formação dos custos dos agricultores.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
Por que a súbita receptividade? Não teria havido volatilidade antes ou o tema apenas preocupa quando os preços sobem (raramente) e não quando desabam como durante a maior parte dos últimos cem anos?
Está em curso ação liderada pelo presidente Sarkozy para tentar controlar o preço dos alimentos na próxima reunião do G20, na França.
A iniciativa deve preocupar o comércio exterior e o agronegócio brasileiros. Ela patenteia a ingenuidade dos que acreditaram numa coincidência estratégica entre os interesses do Brasil e os da França, campeã dos subsídios e do protecionismo agrícola.
Da última vez em que os alimentos aumentaram (2008-09), chamei a atenção na Folha para estudo de Ocampo e Parra mostrando que a alta era só nominal e os preços estavam apenas se recuperando em termos reais.
Ao contrário do índice da FAO (Organização de Alimentos e Agricultura), que parte de base distorcida (1990, auge da queda), os autores do estudo compararam os preços com a média histórica de 1945 a 1980, fase de 35 anos de preços abaixo até da média histórica. Corrigiram as cotações nominais descontando a inflação do período.
Garantido por essas cautelas o estudo revela que: a) os produtos agrícolas sofreram nos anos 1980 colapso só comparável ao de 1920-21; b) a agricultura tropical foi a mais atingida pelo declínio de longo prazo dos preços; c) em 2008 os únicos produtos acima da média anterior (óleo de palma, trigo, bananas e borracha) não possuíam expressão na pauta exportadora do Brasil; d) continuavam muito deprimidos o cacau, o chá, o café, o algodão e o açúcar.
Valeria a pena que entidades brasileiras competentes atualizassem o estudo, utilizando a mesma metodologia. Duvido, no entanto, que o resultado seja muito diferente em relação ao obtido em 2008.
Lembro o precedente para alertar sobre o perigo de aceitar de modo passivo índices, estudos e campanhas que nos chegam com o selo prestigioso de organismos mundiais, escondendo estratégias adversas aos interesses brasileiros.
O problema das commodities agrícolas deve merecer atenção internacional, não apenas devido ao impacto dos preços em países importadores de alimentos.
É preciso não esquecer que a recente mudança para melhor no desempenho econômico da África e da America Latina não teria sido possível sem a recuperação das cotações de commodities.
O equilíbrio e a boa fé exigiriam também eliminar os subsídios dos ricos, que desestimulam a produção de alimentos em países pobres, tornando-os dependentes da ajuda alimentar.
Em seguida, impõe-se coibir a perniciosa especulação financeira em commodities.
Por fim, não se pode pensar em controlar preços agrícolas sem antes controlar fertilizantes, combustíveis e todos os demais insumos do setor que contribuem poderosamente para a formação dos custos dos agricultores.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
Nenhum comentário:
Postar um comentário