Ex-ministro ataca PT gaúcho e culpa Planalto por atraso na reforma agrária
Evandro Éboli
BRASÍLIA. O agora ex-ministro do Desenvolvimento Agrário Afonso Florence vai usar seu discurso na transmissão de posse e entrevistas, esta semana, para defender sua gestão; rebater as críticas ao seu desempenho na pasta, visto como um fiasco; e mandar recados ao governo. Ainda dará estocadas no PT gaúcho por querer controlar a pasta que cuida da reforma agrária. Florence (PT-BA), que voltará à Câmara, ficou irritadíssimo com a demissão. É um pote de mágoa. A solenidade de transmissão de cargo deve ocorrer amanhã ou quarta-feira.
O sentimento de indignação é o mesmo de seu padrinho político, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT). Os dois reuniram-se neste fim de semana em Salvador. A bronca dos baianos chegou ao Planalto e fez com que a presidente Dilma Rousseff soltasse uma nota, sábado, elogiando Florence. Um afago e agrado a Wagner. Foi a segunda nota em menos de 24 horas.
Florence - que foi pego de surpresa, pois achava que, passado o período de fritura na mídia, permaneceria no cargo - atribui sua queda ao PT gaúcho. Especificamente à corrente a qual faz parte: a DS (Democracia Socialista). A interlocutores, o ex-ministro questionou a razão de sempre ser um petista gaúcho dessa corrente a ocupar o MDA. Tem sido assim desde que o PT chegou à Presidência. Miguel Rossetto e Guilherme Cassel, os dois ministros do MDA no período de Lula, também eram petistas do Rio Grande do Sul.
Em conversas reservadas no fim de semana, Florence também rebateu as críticas do Planalto de que a reforma agrária sob seu comando não andou. Lembrou que os primeiros decretos de desapropriação de terra do governo Dilma só foram assinados pela presidente no final de 2011. E atribuiu o atraso no programa ao modelo que Dilma impôs, priorizando a qualidade nos assentamentos, em vez da quantidade.
Nesse modelo, o governo não aceita adquirir qualquer terra - muito distante de centros urbanos, por exemplo - para destinar ao programa. Florence contou a seus próximos que enviava as propostas de decreto de desapropriação ao Planalto, mas os documentos sempre voltavam. Não era o que Dilma queria. O ritmo lento foi uma escolha da presidente, enfatizou.
Embora o ex-ministro baiano atribua a sua queda às pressões do PT gaúcho, a troca de comando no MDA e a escolha do também deputado federal Pepe Vargas (PT-RS) para comandar a pasta tem outro componente político: beneficiar o PMDB. Para assumir o MDA, Pepe Vargas abriu mão de sua candidatura a prefeito de Caxias do Sul (RS), mesmo aparecendo como favorito nas pesquisas. Ele já administrou a cidade - uma das mais importantes do estado - por dois mandatos, entre 1997 e 2004. E agora vai abrir espaço para o candidato do PMDB, provavelmente o ex-governador Germano Rigotto.
FONTE: O GLOBO
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