A paralisação dos funcionários públicos atrasa o despacho de medicamentos importados em portos e aeroportos. A indústria farmacêutica teme a falta de produtos e entrou na Justiça para retirar as mercadorias.
Greve retém remédios para doenças graves
Indústria farmacêutica recorre à Justiça para liberar medicamentos em portos e aeroportos. Pacientes correm risco de morte
Ana Carolina Dinardo
A população já começa a pagar um preço alto pela greve dos servidores públicos em setores estratégicos. Medicamentos que vêm de fora estão presos em portos, aeroportos e entrepostos comerciais, como o de Anápolis, afetando, sobretudo, o tratamento de câncer e de pacientes que precisam fazer hemodiálise. Os remédios não estão sendo liberados nos prazos previstos por técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Receita Federal. No Porto de Santos, o maior do país, os despachos de mercadorias só estão ocorrendo às segundas e às sextas-feiras.
A situação no setor de medicamentos está tão crítica, com a possibilidade de cirurgias serem suspensas, que o Sindicato da Indústria Farmacêutica (Sindusfarma) recorreu à Justiça para a liberação de mercadorias retidas. A primeira ação foi impetrada no sábado passado, contra o Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Mas, apesar de a entidade ter conseguido liminar obrigando os técnicos da Anvisa a darem os laudos necessários à circulação dos remédios, nada está andando na velocidade desejada. Outras ações foram movidas ontem contra os demais aeroportos e portos.
Segundo o vice-presidente do Sindusfarma, Nelson Mussolini, não restou outra alternativa à entidade, pois um dos seus associados afirmou estar com estoque de morfina está em baixa. "Agimos para garantir que os medicamentos cheguem aos pacientes", disse. Ele assegurou, porém, que, mesmo não passando pelo crivo da Anvisa, todos os insumos usados na fabricação de remédios e também os produtos prontos passarão por inspeções de qualidade dentro das empresas responsáveis. "Os empresários assinaram um termo de responsabilidade caso seja constatado algum problema", ressaltou.
A Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplantes (ABCDT) informou que cerca de 100 mil pacientes renais crônicos, que fazem hemodiálise e diálise peritoneal em todo o país, estão correndo risco por causa da greve da Anvisa. De acordo com a entidade, embora o governo afirme que não haverá falta de quaisquer produtos de importância para a saúde pública, na prática isso não vem ocorrendo, pois muitos medicamentos estão presos em portos e aeroportos. "É importante ressaltar que a maioria desses produtos não têm substitutos fabricados no Brasil. Portanto, é de extrema necessidade que os mesmos sejam liberados o mais breve possível, a fim de garantir o tratamento dos pacientes renais, que podem até vir a óbito caso fiquem sem atendimento", alertou a ABCDT.
A Anvisa contestou as informações dos empresários e garantiu que, mesmo com seus funcionários em greve, serviços indispensáveis ao atendimento de necessidades inadiáveis da comunidade estão sendo executados conforme determinou o Supremo Tribunal Federal (STF). O governo também garantiu que não haveria falta de remédios. Porém, o encalhe de mercadorias é visível. Há galpões que estão com quase 100% da capacidade esgotada.
A agência reguladora destacou que já substituiu servidores em greve em oito estados — Espírito Santo, Goiás, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo —, como prevê o Decreto 7.777, assinado pela presidente Dilma Rousseff. A medida, segundo o órgão, teve como objetivo garantir "a segurança sanitária de produtos e serviços à população". Para os sindicalistas, no entanto, a substituição de funcionários federais por servidores estaduais não põe fim ao problema.
Crescimento "bastante gradual"
O diretor de Política Econômica do Banco Central , Carlos Hamilton Araújo, afirmou ontem que a recuperação da economia brasileira está se materializando de forma "bastante gradual", diante das dificuldades no mercado internacional. No entender dele, o ritmo da atividade tenderá a se acelerar neste semestre, puxada pelo aumento do consumo interno. O BC aposta, sobretudo, no consumo das famílias, no reforço da renda, na criação de empregos e na expansão moderada do crédito. Para Hamilton, o crescimento mais forte da economia virá com a inflação sob controle, girando em torno do centro da meta, de 4,5%. Pelas contas da autoridade monetária, o Produto Interno Bruto (PIB) avançará 2,5% neste ano, resultado superior ao que prevê o mercado, entre 1,5% e 1,9%.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE
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