Depois de absolver Pedro Corrêa (PP) da acusação de lavagem de dinheiro, o
ministro Ricardo Lewandowski deverá condenar hoje outros três réus ligados ao
partido por este tipo de crime. O revisor no STF entende que o uso de artifício
para ocultar saque do mensalão configura a prática ilícita. O mesmo raciocínio
será aplicado a réus de outros partidos
Revisor deve punir réus por lavagem
Ricardo Lewandowski avalia que artifícios para ocultação de saques
caracterizam crime
Jailton de Carvalho
UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA
BRASÍLIA - Mesmo tendo absolvido o ex-deputado Pedro Corrêa (PP-PE) da
acusação de lavagem de dinheiro, o ministro Ricardo Lewandowski, revisor do
processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), deverá votar pela
condenação de outros réus, tanto do PP quanto dos demais partidos, denunciados
por esse tipo de crime. O julgamento terá continuidade hoje, a partir das
14h30m. No entendimento do ministro, beneficiários do valerioduto que usaram de
artifícios para esconder a movimentação de dinheiro, após o recebimento dos
recursos, incorreram em crime de lavagem.
No núcleo do PP, enquadram-se os réus João Cláudio Genu, ex-chefe de
gabinete do deputado José Janene; e os empresários Enivaldo Quadrado e Breno
Fischberg. Os três usaram as corretoras Bônus Banval e Natimar para repassar ao
PP dinheiro recebido de Marcos Valério. Pela denúncia da Procuradoria Geral da
República, Genu recebeu R$ 1 milhão de Valério por ordem de Delúbio Soares,
ex-tesoureiro do PT. Já o ex-deputado Pedro Corrêa, que foi inocentado, não
tentou mascarar o recebimento do dinheiro com qualquer operação de fachada.
Momento decisivo para José Dirceu
Lewandowski retoma hoje a leitura do voto interrompido na sessão da última
quinta-feira. Na primeira parte, o revisor votou pela condenação de Pedro
Corrêa por corrupção passiva, mas o absolveu da acusação de lavagem.
Lewandowski inocentou também o deputado Pedro Henry (PP-MT) dos crimes de
corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
Até quarta-feira, o ministro deverá concluir o voto sobre os outros dez réus
que estão sendo julgados nessa etapa. Com isso, os demais ministros deverão
votar sobre os mesmos réus na segunda parte da sessão de quarta-feira, na
quinta e, provavelmente, na segunda-feira da próxima semana. O cronograma
depende da duração do voto de cada ministro. Depois de concluída a análise dos
casos de corrupção relativos a PP, PL, PTB e PMDB, o julgamento entrará em um
momento decisivo e, ao que tudo indica, o mais tenso.
É esperado que na sessão da próxima segunda-feira, semana que antecede o
primeiro turno das eleições municipais, o ministro Joaquim Barbosa, relator do
processo, comece a ler o voto sobre as acusações de corrupção ativa e formação
de quadrilha que pesam contra o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e outros
réus da antiga cúpula do PT: o ex-deputado José Genoino e o ex-tesoureiro
Delúbio Soares. As perspectivas não são favoráveis a Dirceu. O procurador-geral
Roberto Gurgel pediu a condenação do ex-ministro com base na teoria do domínio do
fato.
Nas últimas semanas, quatro de cinco ministros ouvidos pelo GLOBO disseram
que a teoria tem plena acolhida no Direito brasileiro. Ela já serviu de
referência em votos dos ministros Celso de Mello, Rosa Weber e Luiz Fux sobre
outros réus na primeira fase do julgamento. A teoria trata do autor por trás do
autor. Para Gurgel, embora não tivesse participado diretamente da arrecadação e
distribuição de dinheiro, Dirceu era o grande chefe do mensalão. Embora longe
das cenas do crime, o ex-ministro teria o domínio do fluxo do dinheiro. A
acusação tem como base ainda o depoimento do ex-deputado Roberto Jefferson
contra Dirceu.
Nova definição para um velho crime
As sessões desta semana serão importantes também para a consolidação do novo
entendimento do STF sobre crimes de lavagem. A expectativa é que os ministros
confirmem a tese de que o recebimento dos recursos de Valério se configura como
lavagem, e não apenas corrupção passiva ou concussão. Essa foi a ideia que
prevaleceu no caso do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), ex-presidente da
Câmara, condenado pelo crime de lavagem por seis votos a cinco.
Mesmo assim, a questão ainda tem suscitado controvérsias. Para os ministros
que votaram contra a condenação do deputado por lavagem, o crime só poderia ser
classificado dessa forma se, depois de receber o dinheiro de origem ilegal, ele
tentasse reincorporá-lo à economia formal. Entre os ministros que votaram a
favor de João Paulo está Cezar Peluso, que já se aposentou.
FONTE: O GLOBO
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