Aumento dos votos nulos, brancos e da abstenção em algumas das maiores
cidades de Minas revela descrença de parte da população na força do voto
Bertha Maakaroun
Eleitores mais distantes da disputa. Poucos adesivos em carros. Para boa
parte dos cidadãos, não há emoção na briga pelo voto na qual se engalfinham
candidatos. Esse movimento não é novo, e a julgar pela evolução dos votos
brancos, nulos e da abstenção nas últimas eleições, a frieza poderá voltar a se
traduzir nas urnas, com o encolhimento dos votos válidos. Na última campanha
para prefeito de Belo Horizonte, em 2008, brancos, nulos e abstenções somaram
quase um terço do eleitorado: 29%. Foi o maior percentual verificado nos
últimos quatro pleitos na capital, que superou inclusive 1996, quando foram
registrados 27%. Em 2000 e em 2004, brancos, nulos e abstenção caíram para 24%,
voltando a subir quatro anos depois.
Não é apenas na capital que o eleitor parece acompanhar de camarote o debate.
Também em cidades grandes, em que há segundo turno, registra-se crescimento do
grupo que opta pelo voto nulo, branco ou não comparece às urnas. Em Contagem,
depois do aumento gradual dos votos válidos entre 1996 e 2004 – respectivamente
77%, 78% e 79% – nas últimas eleições municipais esse percentual caiu para 75%.
Um quarto dos eleitores abriram mão de escolher um candidato. O mesmo ocorreu
em Juiz de Fora e em Betim. Na cidade da Zona da Mata, os votos válidos caíram
de 81% em 1996 para 77% em 2008, a menor taxa das quatro últimas eleições. Em
Betim, os votos válidos para prefeito em 2000 e em 2004 chegaram a 82% do
eleitorado, mas em 2008 encolheram para 80%.
Num contexto em que o voto é obrigatório, como é o caso brasileiro, o
crescimento do número daqueles que não querem ir às urnas sugere um afastamento
– quase um desencanto – do eleitor. Para o cientista político e professor do
Departamento de Ciência Política da UFMG Bruno Wanderley Reis, o fato de as
eleições terem virado uma rotina torna previsível esperar, a longo prazo, algum
aumento da abstenção. "É de se esperar um movimento nesse sentido. Em
contextos específicos, entretanto, pode haver picos de participação",
contrapõe.
As conjunturas políticas podem ser mais ou menos propícias a que seja reacesa a
chama da participação. O cientista político Marcus Figueiredo, do Instituto de
Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(Uerj), considera, no artigo "O voto obrigatório", que a participação
do eleitor varia em função de sua percepção quanto à capacidade de influir na
vida política do país, cidade e município. Nesse sentido, a flutuação na taxa
de abstenção relaciona-se às condições em que ocorre a competição política e à
crença na efetividade do voto como mecanismo de mudança.
Nas primeiras eleições após um longo jejum provocado pelo regime militar, a
abstenção no primeiro turno em 1989 foi de 11,9%, proporção que, em média,
dobrou nas eleições da última década. A lógica eleitoral pode ser facilmente
aplicada também às democracias antigas, como é o caso da eleição de Barack
Obama, nos Estados Unidos, em 2008, quando numa sociedade desgastada pelo
governo de George W. Bush e sua política única de guerra ao terror, levou quase
66% dos 153,1 milhões de eleitores registrados às urnas. Nos Estados Unidos,
onde o voto não é obrigatório – e o comparecimento médio gira em torno de 50%
–, a participação política naquele ano foi a maior desde 1908, quando várias
restrições impediam todos os americanos de votar. O comparecimento naquela
eleição também superou o recorde de 1960, quando 64,9% foram às urnas na
disputa entre John Kennedy e Richard Nixon.
FONTE: ESTADO DE MINAS
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