Um eleitor tucano explica seu estranho voto útil: "Se o (Celso)
Russomanno vai ganhar de qualquer jeito, então é melhor que ele dispute o
segundo turno contra o (Fernando) Haddad. Porque se o segundo turno for contra
o (José) Serra, o PT vai ajudar a eleger o Russomanno e depois vai teleguiar a
prefeitura". O paulistano é, antes de tudo, um forte em câmbios de última
hora.
Um em cada três paulistanos ainda não sabe dizer espontaneamente em quem
votará ou declara que vai anular ou votar em branco – uma proporção superior à da
mesma época em 2008. E entre os que dizem ter candidato há os que podem mudar
seu voto para adequá-lo às circunstâncias, como o maquiavélico eleitor tucano
disposto a votar em Haddad ou o afluente que flertou com o petista mas, na hora
H, sempre volta ao ninho tucano.
Não bastassem o histórico de mudanças repentinas, os vários tipos de voto
útil e a indefinição de um terço do eleitorado, a trajetória errante da
intenção de voto do paulistano tem sido um pesadelo para os institutos de
pesquisa nas últimas semanas.
Russomanno parou de crescer e começou a cair? Serra parou de cair e começou
a se recuperar? Haddad patina ou cresce? Chalita ameaça reagir no final, mas
apenas o bastante para atrapalhar Serra ou Haddad? Ou o suficiente para chegar
ao turno final? Noves fora, os quatro convergem e ensaiam uma embolada. Resta
ver se vão embolar a dois, a três ou – improvável – a quatro.
As curvas dos candidatos a prefeito de São Paulo variam de instituto para
instituto. No Datafolha, Russomanno desenha uma montanha russa com vales de 30%
e picos de 35%. No Ibope, Serra não parou de cair – ao contrário do Datafolha.
Mas quando se alinham as pesquisas de ambos os institutos, o ponto fora da
curva parece ter sido a inversão entre o tucano e Haddad apontada pelo Ibope na
semana passada.
A culpa não é dos institutos, mas do cenário eleitoral. As idas e vindas
desta eleição paulistana são típicas de quando o grau de incerteza do
eleitorado é alto. Num quadro assim, as mudanças são mais do que possíveis, são
esperadas. E as tendências só ficam claras (ou menos obscuras) quando as
variações bruscas são diluídas pelo cálculo de uma média móvel. É como desfocar
os olhos para embaçar a vista e vislumbrar apenas as silhuetas.
O que a média de Ibope e Datafolha mostra, inequivocamente, é que as curvas
de Serra e Haddad foram perfeitamente espelhadas desde o começo da propaganda
eleitoral na TV. O que um perdeu o outro ganhou. A transferência não foi direta
– Paulinho da Força (PDT) perdeu eleitores para Haddad, enquanto Serra perdeu
para Russomanno. Mas, ao final das contas, as oscilações do tucano e do petista
acabaram por ser inversamente proporcionais.
Juntos, desenharam uma garrafa entre 18 de agosto e 12 de setembro. O bojo
virou gargalo há um mês, diminuindo a distância entre os arquirrivais. Esse
período corresponde à mais intensa troca de ataques entre ambos. Não por
coincidência, ao mesmo tempo a curva de Russomanno corria solta para cima. Até
que a ficha caiu, e as campanhas tucana e petista mudaram de alvo e passaram a
mirar preferencialmente o líder.
A partir da semana de 12 de setembro, as curvas de Haddad e Serra começaram
a correr paralelas e, juntas, a espelharem a evolução de Russomanno – ou
melhor, a sua involução. Ao contrário do que gosta de dizer, o candidato do PRB
não é bolo que quanto mais batem mais cresce. Bastou bater que ele murchou,
pelo menos no eleitorado de maior escolaridade. E só não caiu antes porque foi
poupado pela míope briga de PT e PSDB.
A dúvida que as pesquisas ainda não responderam é se a queda de Russomanno
se estende às periferias sul e leste da cidade e em qual intensidade. Lá votam
eleitores com menor renda e menos anos de estudo. Se Russomanno cair nesses
redutos tradicionais do PT, abrirá espaço para Haddad crescer e ultrapassar
Serra. Se não, o tucano seguirá favorito para ir ao segundo turno. As surpresas
estão previstas mas não são previsíveis.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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