Recado do potencial adversário de Dilma em 2014 foi dirigido a petistas que questionam sua posição
Letícia Lins
RECIFE- Encarado com desconfiança pelas principais lideranças do PT - que já veem nele um potencial adversário da presidente Dilma Rousseff em 2014 -, o governador Eduardo Campos (PSB) criticou ontem os que olham "com intolerância" aqueles que se dedicam a discutir uma "visão estratégica do país", e garantiu que o que vem fazendo é trabalhar por "um novo Brasil". Os comentários foram feitos ontem pela manhã, durante encontro com cerca de 2 mil mulheres, no Centro de Convenções de Pernambuco, quando foi aplaudido de pé e recebido com as palavras de ordem "Brasil, pra frente, Eduardo presidente".
-Estamos em processo de construção de um novo Brasil, que precisa também de um novo pacto social e político. Não vamos arrancar o resto do machismo que tem na máquina pública desse país com as velhas lideranças políticas carcomidas, que nunca assumiram os compromissos de romper com esses cacoetes e deformações - afirmou, no evento que assinalou com atraso o Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março.
Sorridente e acompanhado da mulher, Renata Campos, o governador foi aplaudido ao chegar, durante e após o seu discurso. Bem ao seu estilo - um dia faz uma crítica contundente e no outro amacia -, o presidente nacional do PSB lembrou que a posição do seu partido é de apoio ao governo que ajudou a eleger, lembrando que a legenda esteve ao lado da presidente em todas as matérias importantes votadas no Congresso. Mas salientou que não é por isso que irá ficar imobilizado ou calado:
-A nossa posição é de solidariedade com esse projeto (do governo federal). Mas nós precisamos discutir o Brasil. E isso não pode ser um incômodo, e não podem ser tratados com intolerância aqueles que querem fazer um debate sobre a visão estratégica do país. Mas nós vamos fazer sim, e de maneira muito serena, com o bom senso e a coragem de enxergar adiante.
Ao ser questionado se teme retaliações do governo, perdendo cargos importantes ocupados pelo PSB, como o Ministério da Integração e a presidência da Chesf, reagiu:
- Não é da nossa tradição temer esse tipo de coisa, nem da presidente agir dessa forma. Isso nos dá tranquilidade para agir de acordo com o que a nossa consciência e nossa tradição histórica permitem. Tanto que fomos vítimas de perseguição, cada um a seu tempo, e tivemos que enfrentar isso.
Campos afirmou ainda que o assédio que vem enfrentando - não só nas ruas como para participar de debates em vários pontos do país - não o tem inquietado:
-Sou muito tranquilo para os desafios. A tranquilidade ajuda a gente a encontrar outro caminho. É claro que tem mais telefonemas para retornar. Tem mais convites. Mas meu foco é estar aqui, cuidar do dia a dia do governo, fazer com ânimo o que a gente está fazendo.
Em seguida, também responsabilizou a imprensa por estar em evidência.
- Tem toda uma movimentação a mais por todo o país. Vocês também são responsáveis por isso. Essa responsabilidade não é só minha. Tem muita gente que ajuda a criar um ambiente como esse. Sinceramente, acho que o debate precisa ser além do eleitoral - afirmou.
O assédio a Campos também é cada vez maior entre descontentes da base governista. E até os "dilmistas" não se furtam a marcar encontros com ele. Mesmo com o reforço da presença do PMDB no Ministério de Dilma na semana passada, Campos está abrindo frentes no PMDB do Mato Grosso do Sul por meio do senador Waldemir Moka e do governador André Puccineli, com quem almoçou duas vezes em Brasília nos últimos dias. Outra ala do PMDB em contato com Eduardo Campos é a comandada pelos irmãos Viera Lima (Geddel e o deputado Lúcio), da Bahia.
O senador e empresário Armando Monteiro (PTB-PE), ex-presidente da CNI, está entre os organizadores do encontro de Campos com o bloco União e Força (PTB-PR e PSC), aliado de primeira hora do governo, e que tem entre seus integrantes o ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL) - este último citado semana passada pela presidente como parceiro fiel. O almoço com Eduardo Campos estava marcado para ontem, na liderança do PTB no Senado, mas Campos disse que teria que viajar a São Paulo e remarcou para depois da Páscoa.
Monteiro disse que o convite a Campos partiu de outros companheiros do bloco União e Força, e ele, como pernambucano, está ajudando a organizar o encontro.
- Estou achando que Eduardo está ganhando muito espaço na opinião pública e na opinião publicada. Há uma demanda, uma curiosidade do país, e uma busca por alguma coisa nova nesse processo sucessório. Ele é um político hábil e moderno, que está indo muito bem - disse Armando Monteiro.
Fonte: O Globo
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