A minirreforma da equipe ministerial, anunciada pela presidente Dilma na última sexta-feira, teve sua avaliação política afetada negativamente por significativas manifestações críticas, simultâneas, de duas figuras ligadas ao governo – uma com fortes restrições ao caráter da medida e a outra excluindo-se dela.
A primeira, do empresário Jorge Gerdau, coordenador da Câmara de Políticas de Gestão da Presidência, apontando (numa entrevista à Folha de S. Paulo) o excesso de ministérios e de partidarização do governo federal como obstáculo à eficiência da máquina administrativa e à busca de competitividade para a economia brasileira.
A segunda, do presidente do PSD, Gilberto Kassab, recusando a oferta que caberia ao partido de um novo ministério (o 39º) em troca de compromisso prévio com a candidatura da presidente à reeleição. Mais uma manifestação semelhante, feita dois dias depois, foi a do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que deu mais um passo em sua possível candidatura dissidente associando a mu-dança ministerial à manutenção do “velho pacto do poder pelo poder”, quando “o que o país precisa mesmo é de renovação”.
Mas para o Palácio do Planalto, a ampliação do peso do PMDB no Ministério (com a nomeação para o da Agricultura do mineiro Antonio Andrade, como parte do ataque prioritário do Planalto a Aécio Neves, e a entrega da secretaria da Aviação Civil a Moreira Franco), bem como a devolução da pasta do Trabalho ao grupo do ex-ministro Carlos Lupi, esses dois movimentos foram necessários à sustentação da governabilidade e para o grande objetivo político de garantir à campanha reeleitoral de 2014 amplo predomínio do tempo de propaganda “gratuita” no rádio e na TV.
Serra e o PPS
As dificuldades que Lula e Dilma vivenciam para contornar ou reduzir as contradições na base governista, tendo sobretudo agora em vista a montagem de ampla aliança na campanha reeleitoral da presidente, coincidem com o problema que o oposicionista Aécio Neves enfrenta para superar o primeiro desafio de sua candidatura: a garantia de unidade do PSDB, antes do de caráter pluripartidário, de importância bem maior, que terá pela frente na medida em que ela se torne de fato competitiva – a atração de lideranças nacionais e estaduais de legendas hoje vinculadas àquela base.
1 – Mesmo com a derrota na última eleição para a prefeitura de São Paulo, José Serra segue tendo influência no PSDB paulista e o recall de duas campanhas presidenciais para dificultar, o mais que pode, a formalização pelo partido da candidatura de Aécio. Especulações mais recentes dão conta de conversas dele com o presidente do PPS, Roberto Freire, sobre possível apoio seu à pré-candidatura de Eduardo Campos. O que se processaria através de troca da legenda dos tucanos por uma nova criada pela fusão do PPS com o PMN (minúsculo e sem representação no Congresso), que seria capaz de arrebanhar vários parlamentares descontentes de outros par-tidos em torno de campanha presidencial do governador de Pernambuco. A justificativa, ou explicação, do dirigente do PPS para tais articulação e objetivo é a de que Campos terá melhores condições do que Aécio para confrontar a candidata governista.
2 – Para o próprio José Serra, mais provavelmente essas conversas são parte de sua tática de condicionamento de adesão a Aécio a um papel significativo de seu grupo na direção nacional do PSDB a ser eleita em maio próximo. Assim, ele usa, ou usaria, como moeda de troca a relevância atribuída por Aécio à unidade do partido, que tem qualificado como condicionante do projeto presidencial. Mas Serra sabe que seu peso partidário está hoje reduzido – com o comando do diretório paulista exercido pelo governador Geraldo Alckmin e com o ex-presidente FHC constituindo a principal referência nacional, ambos respaldando Aécio. E, pouco a pouco, deverá estar presente pessoalmente ou representar-se na nova direção nacional do partido e caminhar para o apoio à candidatura do mineiro.
3 – Já para Roberto Freire, os passos pró-Eduardo Campos que tem dado de certo refletem, de um lado, a avaliação de que o PPS (ou o Partido da Esquerda Democrática, resultante da fusão proposta) terá, ou teria, mais espaço numa campanha do governador de seu estado do que na de Aécio. E de outro lado, atualizam os fortes vínculos políticos e pessoais que o ligam a Serra. Mas ele corre um grande risco – o de que o presidente do PSB termine, por meio de negociação com Lula e Dilma ou sob maior pressão do governo sobre seu partido, desistindo da candidatura.
Jarbas de Holanda é jornalista
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