- O Globo
Alianças políticas são um poderoso instrumento de construção de maiorias consistentes em regimes democráticos. Nas eleições, elas aglutinam plataformas, facilitando assim a informação do público eleitor.
Se tomarmos, contudo, as alianças políticas que estão sendo feitas para as eleições de 2014, o quadro parece se afastar dessa imagem ideal. No plano do executivo federal, o quadro é bem coerente para o eleitor: uma candidata da situação, que está em primeiro lugar nas pesquisas, com um candidato da oposição em segundo lugar, com algo em torno de metade das intenções de votos do primeiro, e uma terceira força com aproximadamente metade das intenções do segundo colocado. Até os partidos e alianças na liderança da corrida se repetem há várias eleições.
Essa clareza e estabilidade não se verificam nos pleitos estaduais. Tomemos como exemplo os dois principais estados da Federação, Rio de Janeiro e São Paulo. No Rio, pelo menos quatro candidatos querem partilhar palanque com Dilma Rousseff, do PT: Garotinho, Pezão, Crivella e Lindbergh Farias. Parte significativa do PMDB, contudo, apoia Aécio Neves, do PSDB, principal contendor de Dilma, e também apoia Cesar Maia, do DEM, para o senado. Lindbergh Farias, candidato do PT ao governo do estado, coligou-se com o PSB e vai dividir palanque com Romário, candidato a senador e crítico acerbo do governo Dilma.
Em São Paulo, as coisas não são menos confusas. O candidato ao governo pelo PMDB, Paulo Skaf, é forte opositor da gestão do PT na prefeitura da capital do estado. Frente à baixa popularidade até agora alcançada pelo candidato petista ao governo, Alexandre Padilha, a campanha de Dilma precisa do palanque de Skaf, que, entretanto, mostra-se reticente a aderir, com medo de ser contaminado pela rejeição da candidata em São Paulo. No front do PSDB também há problemas. O candidato ao governo, Geraldo Alckmin, aceitou o apoio de Eduardo Campos, do PSB. Marina Silva, a vice de Campos, rejeita a aliança e exigiu que seu nome e foto fossem retirados do material de publicidade da chapa "Edualdo", que traz Eduardo e Geraldo juntos. Eduardo, contudo, segue firme na aliança.
E o eleitor, como fica? Sem dúvida, mais confuso. É mais difícil entender as plataformas e posições dos partidos e candidatos se suas associações são de natureza diversa quando não amorfa ou contraditória. O ideal seria que o Congresso Nacional fizesse uma reforma política que pudesse melhor estruturar a competição partidária nos diversos planos da Federação.
Pesquisas recentes apontam para uma maior desesperança da população na política e em suas instituições. O quadro das alianças regionais só pode contribuir para aumentar essa desesperança. E a culpa é das regras do jogo que permitem que eles assim ajam. Essas regras precisam mudar. Só com coligações verticalizadas podemos emprestar maior coerência ao voto e fortalecer os partidos, dando-lhes uma fisionomia mais clara aos olhos do eleitorado.
João Feres Junior é professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos
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