• Presidente do PDT, sigla que integra o governo, afirmou que PT ‘roubou demais’
Ricardo Brito – O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - As críticas feitas ao PT pelo presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, publicadas ontem no Estado, foram recebidas com desdém por lideranças da sigla. O dirigente declarou que os petistas “roubaram demais, exageraram”. “Acho que isso é resultado de uma pessoa boquirrota, uma pessoa que sinceramente eu não valorizo”, disse ontem o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE). Ele advogou a tese de que seria preciso ouvir a opinião de Manoel Dias, ministro do Trabalho e representante do PDT no governo.
Dias preferiu dizer que a versão apresentada a ele por Lupi – cujo depoimento sobre o PT foi gravado – foi diferente, sem as críticas contundentes ao partido aliado. Questionado se fica constrangido em permanecer no governo, Dias respondeu que não. “Me dou por satisfeito com a resposta dele (Lupi).”
O ministro disse que a decisão sobre a participação do PDT na administração Dilma Rousseff cabe ao Diretório Nacional. No dia 15 de maio vai ocorrer uma reunião do comando partidário, mas a saída da legenda do governo não está na pauta do encontro.
No governo, a estratégia adotada foi a de evitar responder diretamente a Lupi para não alimentar ainda mais a polêmica. Segundo um interlocutor direto de Dilma, a resposta ao presidente do PDT teria de partir do PT. A avaliação do interlocutor é de que as declarações de Lupi são ruins e desagradam, mas não afetam a relação do partido aliado com o governo. “Lupi foi ingênuo de achar que não estava sendo gravado, mas jogou para a plateia do partido”, afirmou o interlocutor de Dilma, lembrando que Lupi foi um dos “faxinados” no primeiro mandato da presidente.
Na reportagem do Estado publicada ontem, o dirigente pedetista, ex-ministro dos governos Lula e Dilma, disse que o PT “se esgotou”. “O PT exauriu-se, esgotou-se. Olha o caso da Petrobrás. A gente não acha que o PT inventou a corrupção, mas roubaram demais. Exageraram. O projeto deles virou projeto de poder pelo poder”, afirmou Lupi na quinta-feira em encontro com correligionários em São Paulo. A fala ocorreu um dia após a Petrobrás divulgar que a perda da estatal com corrupção foi de R$ 6,2 bilhões.
Procurado, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que não iria comentar. O partido e integrantes da cúpula não se manifestaram em redes sociais, como tem sido praxe quando a legenda é criticada.
‘Graves’. Um dos vice-presidentes do PT, o deputado federal José Guimarães (CE), líder do governo na Câmara, classificou como “graves” as declarações de Lupi. Guimarães disse que é preciso discutir com o aliado para evitar a saída do PDT da base de apoio da Dilma.
Ele destacou ainda que a fala do presidente do PDT ocorre no momento em que o governo tenta melhorar a relação política com os partidos da base – com a assunção da tarefa de articulador pelo vice-presidente Michel Temer. “Um partido importante como o PDT sair da base é prejuízo. Por mim, fica”, disse Guimarães.
Para tentar reduzir o mal estar, Carlos Lupi telefonou para dirigentes do PDT ao longo do dia de ontem. Apresentou a versão de que suas declarações foram retiradas do contexto. Lupi conversou por telefone no início da noite com Manoel Dias.
Ao Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, o presidente do PDT afirmou que desde o ano passado o partido tem tido divergências com o governo. E disse que a aliança não pode ser baseada apenas na participação em um ministério, mas precisa ter uma participação efetiva na formulação de propostas.
Lupi disse que, por ora, não está no radar do partido deixar a base de apoio de Dilma. “Amanhã se tiver uma decisão para sair do ministério, ele (Manoel Dias) sai na mesma hora”, afirmou. O pedetista rebateu a afirmação de Humberto Costa, que o chamou de boquirroto. “Cada um fala o que pensa e eu posso achar o mesmo dele.”
Atualmente o PDT ocupa, com o ministro Manoel Dias, apenas a pasta do Trabalho. O partido conta hoje com 19 dos 513 deputados da Câmara e seis dos 81 senadores. / Colaborou Tânia Monteiro
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