Isadora Peron – O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A publicação de trechos da delação premiada do dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa, deu força à ala do PMDB que defende o início de um processo de afastamento do governo. A primeira bandeira levantada por esse grupo - ainda minoritário dentro da estrutura partidária - é a saída da articulação política da gestão Dilma Rousseff (PT), comandada pelo vice-presidente Michel Temer desde abril. Com o agravamento da crise política, a oposição voltará a discutir a tese do impeachment da presidente.
O PMDB é o maior partido da base aliada de Dilma. Integrantes da legenda avaliam que o conteúdo das acusações jogou a crise para dentro do Palácio do Planalto e deixou a presidente sem reação, uma vez que o seu principal auxiliar, o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, está entre os citados. Embora o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calhei-ros (PMDB-AL), estejam sob investigação no âmbito da Operação Lava Jato, a dissidência pee-medebista argumenta que permanecer apagando incêndios no Congresso Nacional só aumenta o desgaste da legenda.
"Concluído o processo do ajuste fiscal, ele (Temer) não precisa ficar fazendo papel de cirurgião num quadro de hemorragia", afirmou o deputado Alceu Moreira (PMDB-RS). "O PMDB tem compromisso com o Brasil. Foram feitas as votações do ajuste e acho que o Michel precisa voltar ao Jaburu, porque caso contrário vai estar em meio à crise que ele não criou" acrescenta o também gaúcho Osmar Terra (PMDB).
A articulação já foi mapeada por aliados de Temer, que agem agora para controlar o movimento. Eles argumentam que qualquer ação nesse sentido seria precipitada e retiraria o suporte político da equipe econômica. "O PMDB não pode ser autor da crise", resumiu um integrante do partido próximo a Temer. "Ninguém aqui quer jogar o País no abismo", acrescentou outro aliado do vice-presidente.
Oposição. O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), afirmou que vai se reunir no início da semana com outras lideranças da oposição para definir o que fazer diante da delação de Pessoa. O tucano, que tem sido pressionado a voltar a liderar campanha pelo impeachment, disse que as denúncias eram graves, mas exigem cautela. "O que fica mais claro, a cada dia, é que eu não perdi a eleição para um partido político, e sim para uma organização criminosa."
Aécio também defendeu o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), que foi citado na delação. Segundo ele, Aloysio, que foi o seu vice na corrida presidencial de 2014, é um "homem de bem" e recebeu uma doação legal. / R.D.C. e R.M.M.
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