- O Estado de S. Paulo
Uma inundação repentina provocou o caos em Tbilisi, na Geórgia. A avalanche de água e barro libertou animais selvagens do zoológico. Por dias, ursos, hipopótamos e hienas circularam livres por casas, ruas e edifícios. Moradores se organizaram para tentar restabelecer a ordem. Um deles acabou morto e outro foi ferido por um raro tigre branco, que também escapara do zoo.
Dos 600 animais do zoológico, metade morreu afogada ou abatida a tiros – o tigre, inclusive. Dezessete pessoas acabaram perdendo a vida. Enquanto os civis pagavam pelo estrago, o poder público batia cabeça. A polícia foi acusada de matar indiscriminadamente os animais fugitivos. As autoridades garantiam ter tudo sob controle, enquanto os dois principais partidos políticos do país acusavam um ao outro de ser o culpado pela tragédia.
Como se vê, o Brasil não é o único lugar do mundo onde o duelo autista dos poderosos transformou o país em uma selva. Há um conforto inconfessável em saber que os partidos brasileiros tampouco são os únicos a se isolarem no jogo de soma zero, no qual um só busca anular o outro – e, em geral, consegue.
Talvez seja divertido para os jogadores, mas fica cada vez mais claro que a torcida está farta de ver um partido empurrar a responsabilidade para o outro, enquanto as feras correm soltas.
Levantamento do Estadão Dados mostrou que nunca houve tão poucas filiações partidárias quanto em 2015, no Brasil. E este não é um ano qualquer. É o momento-chave do ciclo político de sete anos que está começando. É quando os partidos deveriam aproveitar o interesse paroquial dos futuros candidatos a vereador e a prefeito para multiplicar suas bases nos municípios.
Não está rolando. Na maioria dos partidos, há menos filiados hoje do que havia no fim do ano passado. Na soma das 32 legendas, houve uma redução de 3 mil militantes desde dezembro.
Pode parecer pouco diante dos 15 milhões de filiados. Não é, por conta do período em que essa debandada está ocorrendo.
Quatro anos atrás – também na véspera de um ano de eleições municipais –, o total de filiados a partidos políticos cresceu em 1 milhão de eleitores: pulou de 14,2 milhões para 15,2 milhões entre 2010 e 2011. Há oito anos, de 2006 para 2007, o aumento havia sido maior, de 1,7 milhão de filiados. E há 12 anos o incremento fora mais volumoso ainda: 2,3 milhões, entre 2002 e 2003.
Por que isso acontecia? A eleição local é a porta de entrada na política partidária. Para disputá-la, os candidatos precisam estar filiados pelo menos um ano antes. Além disso, os aspirantes a poderosos precisam filiar o maior número possível de pessoas para conquistarem maioria nos diretórios municipais, que depois formarão a chapa de candidatos a vereador e a prefeito nas eleições subsequentes. É o ano zero da política.
Pois não há sinal de que o fenômeno esteja se repetindo em 2015. Há três hipóteses para isso: 1) o ritmo de filiações está atrasado este ano, mas vai se recuperar de agora até setembro; 2) o estoque de filiados maduros se esgotou e as novas gerações não se interessam em participar do processo político-partidário; 3) o eleitor em geral se desiludiu. As duas últimas parecem fazer mais sentido, porque a queda é progressiva e continuada.
Isso projeta um problema para os partidos governistas. Há uma correlação entre crescimento do número de filiados e desempenho eleitoral. Quanto mais filia no ano anterior ao pleito municipal, mais o partido elege no ano seguinte. Se a tradição se mantiver e o ritmo de filiações não mudar, PT e PMDB – perdendo filiados – devem encolher em prefeitos e vereadores.
E isso deve comer o número de deputados federais que ambas as siglas virão a eleger em 2018 – o que amputará parte do tempo de TV a que terão direito na eleição presidencial de 2022. O tigre está solto e parece ter predileção por petistas e peemedebistas.
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