Cristiane Agostine – Valor Econômico
SALVADOR - O prefeito de Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto, decidiu deixar o DEM e negocia filiação ao PMDB. Na terça-feira, conversou com o presidente do PMDB da Bahia, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, e nos últimos dias reuniu-se em Brasília com lideranças pemedebistas e do DEM - considerado pequeno demais para sustentar sua candidatura ao governo do Estado. A possibilidade de fusão com o PTB, porém, ainda poderá levar à permanência de ACM Neto na sigla.
ACM Neto negocia troca de legenda com PMDB e PSDB
À frente da principal cidade comandada pelo DEM, o prefeito de Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto, com 36 anos, intensificou nos últimos dias as negociações com o PMDB e com o PSDB para trocar de partido. Candidato à reeleição em 2016, ACM Neto preocupa-se com o escasso tempo de televisão que sua legenda terá nas próximas eleições e com a falta de musculatura da sigla para 2018, quando pretende disputar o governo baiano. O prefeito tem dito que só ficará no DEM se o partido se fundir ao PTB. A aprovação de uma "janela partidária" ontem, pela Câmara dos Deputados, no entanto, poderá dar um novo fôlego ao processo de fusão entre as duas legendas - e de permanência de ACM Neto na sigla.
Nos últimos dois dias, ACM Neto reuniu-se em Brasília com lideranças do PMDB, PSDB e do DEM, separadamente, para discutir seu futuro político. O prefeito tem dito a interlocutores que, se migrar de partido, a tendência é de filiar-se ao PMDB. Na terça-feira, teve uma longa conversa com o presidente do diretório do partido na Bahia, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, e sinalizou que poderia desembarcar do DEM com vistas a um projeto para 2018, que já começaria a ser construído.
Aos aliados, ACM Neto disse que continuará as conversas até julho, quando anunciará sua decisão.
O prefeito tem se queixado do enfraquecimento do DEM no país. Em 2014, o partido ficou em 10 ºlugar na lista das maiores bancadas eleitas da Câmara. Desde o fim do governo Fernando Henrique Cardoso, a legenda só minguou. Em 2002, o então PFL elegeu a segunda maior bancada, com 84 deputados, sendo 19 eleitos pela Bahia. Em 2006, foi para a quarta posição entre as maiores bancadas, com 65 parlamentares. Quatro anos depois, já com o nome DEM, caiu para 43 deputados. Na eleição passada, reduziu ainda mais, para 21 deputados, sendo quatro parlamentares eleitos pelo Estado.
Além do tempo reduzido de televisão em 2016, ACM Neto tem apontado a aliados a falta de perspectiva de crescimento do partido. Além de não ter eleito nenhum governador em 2014, o DEM tem poucas candidaturas competitivas para 2018: além de ACM na Bahia, são cotados os senadores Ronaldo Caiado para disputar em Goiás e de Davi Alcolumbre no Amapá.
"Uma coisa é certa: qualquer que seja a minha decisão não vou aderir a governo federal nem ao PT, mesmo que eventualmente meu caminho seja ir para um partido que está na base. Vou manter uma posição de respeito à oposição e ao projeto que tenho ajudado a construir nos últimos 13 anos. Tenho opção de continuar onde estou - que para mim sempre será bom - e tenho opção de mudar", afirmou ACM Neto ao Valor, durante uma extensa agenda de visitas a escolas públicas na periferia de Salvador. "Não tenho pressa para tomar decisão".
Apesar de sinalizar seu desembarque do DEM, ACM Neto disse que poderá ficar no partido com a fusão ao PTB. Juntas, as duas legendas formariam a quarta maior bancada da Câmara, com 46 parlamentares (21 do DEM e 25 eleitos pelo PTB). O comando dos dois partidos aguardava a aprovação da "janela" de migração partidária pelo Congresso para dar andamento às negociações. A medida poderá fazer com que os dois partidos atraiam mais parlamentares. "A aprovação pela Câmara é um fato novo que deve ser apreciado", disse o presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN). "Conversei longamente com ACM Neto e voltaremos a conversar. Qualquer decisão será tomada em conjunto", disse Agripino.
O prefeito pretende resolver sua situação política até julho para ter cerca de dois meses para negociar candidaturas às prefeituras e Câmaras Municipais do interior e a migrações de seus aliados. Em outubro, um ano antes das eleições, acaba o prazo para as trocas partidárias de quem vai disputar em 2016. ACM Neto tem dito a interlocutores que, se mudar de partido, pretende manter sua influência no DEM e não pretende levar consigo quem tem mandato.
O PMDB tem se empenhado na tentativa de atrair ACM Neto. A possível migração do prefeito foi discutida no início do ano em um jantar com o vice-presidente da República, Michel Temer, em um jantar no Palácio do Jaburu, em Brasília, com a presença de lideranças do PMDB e do DEM. Na ocasião, Geddel cogitou a fusão entre as duas legendas, mas a ideia não prosperou.
Integrante da Executiva nacional do partido e presidente do diretório baiano, Geddel disse que a intenção "imediata" do PMDB é de começar um projeto com vistas a fortalecer o partido para 2018.
"Se ele [ACM Neto] vier, seria nosso candidato em 2016 e começaremos a trilhar um caminho juntos para ver o que fazer em 2018. A minha ideia, do PMDB e dele é fortalecermos essa aliança para fazermos um enfrentamento contra o PT", disse Geddel, ao Valor. "Queremos caminhar juntos".
Adversário político do avô do prefeito, o dirigente do PMDB minimiza os embates que teve no passado com o ex-governador Antonio Carlos Magalhães, morto em 2007: "O avô dele faz parte de um livro de história. Não tenho nada para retirar nem para acrescentar das brigas que tive com o avô dele. Mas é página virada."
ACM Neto teme ter espaço limitado no PMDB, liderado no Estado pelos irmãos Vieira Lima. Geddel procura minimizar o eventual problema, mas dá indicações que não pretende perder espaço no comando do diretório. "Evidentemente que a nossa posição majoritária dentro do PMDB não está em questionamento. É de um grupo político que está no PMDB desde sempre", disse.
No PSDB, o prefeito tem discutido sua eventual migração com o presidente nacional do partido, senador Aécio Neves (MG). Os dois são amigos e conversaram sobre a troca partidária ontem, em Brasília.
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