- Valor Econômico
• Os pedágios do prefeito do Rio rumo a 2018
Dilma Rousseff era ministra da Casa Civil quando o prefeito do Rio, Eduardo Paes, a levou para as obras dos piscinões na Praça da Bandeira, entroncamento na zona norte da cidade. Num esforço para comovê-la, mostrou o desastre que seria se chovesse durante Copa e Olimpíada e as obras não estivessem prontas. O papo carioca arrancou da futura presidente R$ 350 milhões para a obra. "Acontece que no mês de julho não chove nunca", arrematou o prefeito.
Eram oito horas da manhã e Paes pontificava como a estrela de um café com empresários em São Paulo. A história despertou a plateia, que desatou a rir. Num país debaixo de um arrocho sem fim, eis que aparecia ali uma liderança capaz de contar em público como levar a principal mandatária da República na lábia para tocar obras e entregá-las no prazo. E o faz, até agora, ileso, a despeito de ser filiado ao PMDB do Rio, que tem três de suas principais lideranças (Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão e Eduardo Cunha) na fila dos vaticínios da Lava-Jato.
Depois de 65 anos, o Rio voltou a ser a capital. É a sede da estatal que afundou o PT e da única vitrine do país em 2016. É a cidade que antecipou os rumos do PT. Quando o partido ainda não tinha medo de ser feliz, já negociava com os vendilhões do Rio. Foi a maior cidade em que o PT, pela primeira vez em sua história, desistiu de lançar candidato à prefeitura em 2012 e ficar na vice do PMDB. Por isso tudo, é de lá que o partido mais agressivo do pedaço pode tirar seu candidato à Presidência da República.
Paes é um papel que ainda está barato no mercado eleitoral porque precisa fazer sucessor e uma boa Olimpíada antes de partir para unificar o partido. Vendeu-se àquela plateia de possíveis compradores sem disfarçar seus atritos no mercado, a começar pela maior das empreiteiras.
Depois de passar um atestado de inidoneidade à Odebrecht, que só não faz no Brasil aeroportos como o de Miami porque o governo não presta, o anfitrião do encontro provocou o prefeito sobre o Galeão. "Eles [a Odebrecht] me dizem que vão entregar no prazo. É o que consta", disse Paes, num tom muito menos entusiasmado do que o dirigido a concorrente quando, mais adiante comentou a Lava-Jato. "A gente tem que mostrar que se fizer a coisa com transparência não dá escândalo. Não tem só Paulo Roberto [Costa] nesse meio. Vou fazer a defesa da capacidade de engenharia da Queiroz Galvão ", disse o prefeito sobre a construtora que teve dois ex-dirigentes entre os cativos de Sergio Moro.
Paes terá no seu portifólio um evento, ao contrário da Copa do Mundo, para chamar de seu. Arrisca-se a concentrar o ônus, mas quem o ouve falar tende a acreditar que só haverá bônus. Para cada real de obra de Olimpíada apresenta cinco em melhorias da cidade.
Vangloria-se de obras olímpicas com menos dinheiro público e mais privado que as de Londres, desde que neste último se incluam os empréstimos subsidiados do BNDES, de cujo gigantismo sua gestão foi uma das mais beneficiadas.
Faz a defesa de obras que, transplantadas para São Paulo, são debitadas na conta da impopularidade do prefeito Fernando Haddad, como a expansão das ciclovias e a derrubada da perimetral, o minhocão carioca.
Mas se Paes não se deixa confundir com petistas, também não se faz passar por tucano. Um empresário que teve o filho ferido a facadas na Lagoa Rodrigo de Freitas pergunta se é possível viver no Rio. Era a deixa para pegar carona no discurso da redução da maioridade, mas o prefeito não embarca na canoa de seu correligionário Eduardo Cunha.
Não está preocupado com a segurança da Olimpíada. Baixam Exército, Força Nacional e não acontece nada. Depois que vão embora é que, na expressão do prefeito, o pau come de novo. Por um lado, rejeita o gasto social como saída única e cita os acusados do último assassinato na Lagoa como filhos de famílias com Minha Casa Minha Vida e Bolsa Família. Por outro, vê cortina de fumaça no endurecimento penal. Quer resolver com mais polícia, desde que não precise dar arma para guarda municipal.
Aparece, finalmente, quem o indague sobre a candidatura à Presidência da República. Diz que, se negar, ninguém vai acreditar. O mais natural seria a candidatura ao governo do Rio, mas para isso teria que ter começado a arregimentar os prefeitos do Rio. Ao fim do governo, vai tomar o mesmo rumo dos governantes de sua geração que optam por uma entressafra em que possam fazer articulações, sem assédio, matriculando-se em alguma universidade estrangeira.
É bem possível que Paes seja sincero quando fala do governo do Rio como caminho natural do qual parece apartado contra sua vontade. O PMDB do Rio tem três sócios, o presidente da legenda no Estado, Jorge Picciani, o secretário estadual de governo, Paulo Melo, e o ex-governador Sérgio Cabral. Paes não é cria de nenhum deles, mas do ex-prefeito e atual vereador Cesar Maia, de quem é hoje adversário. O partido cumpre o terceiro mandato no governo do Estado e não pretende largá-lo. Se sobreviver à Lava-Jato, Cabral é candidato a voltar ao Palácio da Guanabara.
Uma candidatura de Paes à Presidência, no entanto, não decorre apenas das disputas paroquiais de seu partido. No momento, serve ao discurso pemedebista de se apartar do PT, entoado até por lideranças que não estão fechadas com o nome do prefeito para 2018, como Eduardo Cunha.
É cedo para prever o divórcio do PT, mas são claros os sinais de aproximação com o PSDB. Tanto de Paes e Renan Calheiros com José Serra, quanto de Eduardo Cunha com Geraldo Alckmin, e de Michel Temer com todos eles. Não é por cochilar no impeachment que Aécio Neves se arrisca a perder o bonde da história mas pela dianteira que seus adversários tucanos tomaram em direção ao PMDB.
Para entrar no jogo, Paes ainda tem que fazer o sucessor, o chefe de sua Casa Civil, Pedro Paulo Teixeira. Levou para seu governo e para sua base na Câmara Municipal quase todos os partidos que o ameaçam, inclusive os aliados dos caciques pemedebistas que hoje já parecem pacificados em torno de seu escolhido.
Quase tão difícil quanto unificar as alas do PMDB é controlar o temperamento arrebatado já conhecido na noite do Rio. No dia em que encontrou empresários foi indagado sobre a ameaça que vem pela esquerda, com a aproximação entre o PSOL de Marcelo Freixo e o PT. De mudança para o Rio, Tarso Genro pode acabar lhe prestando um favor em livrá-lo do PT, mas Paes não perdeu o hábito: "É a aliança de dois derrotados".
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