Como era de esperar, o governo e o PT estão usando todo seu poder de fogo, que apesar de tudo não é pouco, na tentativa de obstruir as vias institucionais de tramitação de eventual processo de impeachment de Dilma Rousseff. Afinal, as instituições republicanas não são abstrações teóricas e estão sujeitas, nos limites da lei, ao arbítrio dos indivíduos que as integram – e o lulopetismo teve mais de 12 anos para estender sua influência a todo o organismo estatal.
Nos últimos dias, STF, TSE e TCU tomaram decisões que têm em comum propiciar um sono mais tranquilo à presidente da República. No âmbito especificamente político, o retorno de Renan Calheiros ao regaço governista colocou em cena aquilo que Dilma vinha tentando criar em vão há meses: uma “agenda positiva”, rápida e espertamente batizada de Agenda Brasil.
O conteúdo da tal agenda é o de menos, até porque a maior parte das propostas apresentadas já estava em tramitação no Congresso. E muitas delas prestam-se exclusivamente ao efeito pirotécnico desejado pelo Planalto, que agora não pode mais ser acusado – por Lula, por exemplo – de não saber fazer política.
Na semana que precede as manifestações populares do movimento “Fora Dilma”, outras novidades – entre elas a ativa participação da chefe do governo em eventos cuidadosamente selecionados nos quais recebeu apoio de entidades e organizações sociais filopetistas – deram fôlego à presidente da República para enfrentar a costumeiramente aziaga segunda quinzena de agosto.
Não há, porém, acerto político entre quatro paredes ou factoide pirotécnico que mude a curto prazo a dura realidade da crise econômica, social e moral que o País enfrenta. E a enorme impopularidade de Dilma e a ameaça de impeachment são consequências naturais da crise. O encaminhamento de qualquer solução para o impasse depende de um amplo entendimento político que garanta a governabilidade indispensável à adoção das medidas, muitas delas impopulares, necessárias ao saneamento das contas públicas. Essa é condição essencial à retomada do crescimento econômico, pela razão simples de que é a única maneira de garantir recursos públicos e atrair investimentos privados para programas sociais e projetos de infraestrutura.
Ocorre que é exatamente aí que está o nó que posterga o efetivo combate à crise e torna as perspectivas econômicas sombrias para o País. O PT, embora não o assuma oficialmente, é contra a proposta de ajuste fiscal apresentada pela chefe do governo e articulada pela equipe econômica sob o comando do ministro Joaquim Levy. Estão igualmente contra o ajuste – sem a necessidade de salvar as aparências – as entidades e organizações sociais identificadas com o PT.
O argumento dessas forças que teoricamente apoiam o governo é que o ajuste não pode ser feito “à custa dos trabalhadores”. Ou seja, acreditam – ou fingem acreditar – que os sacrifícios exigidos para recuperar as finanças e retomar os investimentos públicos devem ser impostos exclusivamente à “elite”, na qual incluem a classe média que tem protagonizado os panelaços e as manifestações de rua contra o governo.
Essa visão distorcida que prevalece nas forças políticas que se alinham ao lado de Dilma exerce sobre o governo um efeito paralisante no mínimo tão prejudicial quanto o arsenal de maldades que Eduardo Cunha tem acionado no comando da Câmara dos Deputados. Essa mesma visão leva a presidente a ouvir desatinos – e a se tornar cúmplice silenciosa deles – como o proferido por um troglodita que preside o braço sindical do PT, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), de que a defesa do mandato da presidente da República “implica ir para a rua, entrincheirados, de armas na mão”.
Esse quadro melancólico demonstra que, se por um lado as forças governistas ainda dispõem de recursos e disposição para defender o mandato da presidente da República, por outro lado têm muito pouco a salvar: Dilma Rousseff não tem coragem de encarar – e resolver – as contradições em que está mergulhada até o pescoço.
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