- O Globo
Às vésperas das manifestações contra o governo Dilma programadas para amanhã em todo o Brasil, a ameaça do presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, de pegar em armas para defender a presidente e o ex-presidente Lula de um suposto golpe dá o tom de irresponsabilidade com que está sendo tratada a questão.
Nada mais próximo da Venezuela atual do que a imagem de um líder sindicalista, dentro do Planalto e ao lado da presidente, a quem chama de “presidenta”, falando em ficar armado nas trincheiras para supostamente defender a democracia.
Nada mais antidemocrático do que esse tipo de abordagem, que não foi contestada pela presidente. O máximo que Dilma conseguiu foi defender um diálogo com quem acabara de falar em armas, que só viraram retóricas mais tarde, depois que a repercussão do despautério mostrou à CUT que ela não pode assumir um papel belicoso quando trata de democracia.
Pelo Twitter, o chefão da CUT mandou avisar que estava usando uma linguagem metafórica. O comandante do MST, João Pedro Stédile, já havia utilizado metáforas militares quando afirmou que colocaria seu exército nas ruas para defender o governo.
O que não faltam hoje nas manifestações do governo e seus aliados são incoerências, pois não há mais como manter unidos polos políticos tão heterogêneos quanto os que formam (formavam?) o bloco aliado governista. Vagner Freitas começou sua fala reclamando de “intolerância e preconceito”, afirmando que o que há é “preconceito de classe contra nós”, os sindicalistas que estavam ali reunidos no Palácio do Planalto num ato convocado pelo governo de apoio à presidente Dilma.
Ao mesmo tempo em que se disse defensor “da unidade nacional, da construção de um projeto nacional de desenvolvimento para todos e para todas”, o chefão da CUT engrenou uma segunda e subiu o tom, dizendo que defender o projeto de união nacional implica, “neste momento, ir para as ruas, entrincheirado, com arma na mão, se tentarem derrubar a presidenta Dilma Rousseff.” E ainda identificou o inimigo a ser batido, “a burguesia”.
O mesmo governo que chama os “movimentos sociais” para defendê-lo está se empenhando no Congresso para aprovar uma série de medidas que outrora seriam chamadas de “neoliberais” pelos petistas entrincheirados no Congresso, pintados para a guerra.
Hoje, o presidente do PT, Rui Falcão, recusa-se a assinar manifesto contra a política do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, negando apoio aos mesmos movimentos sociais que eles chamam em seu socorro contra a “burguesia”, da qual a maioria dos petistas hoje faz parte, especialmente Lula, apanhado indiretamente num grampo telefônico combinando com um diretor da Odebrecht — dias depois preso na Lava-Jato — como afinar o discurso para rebater acusações sobre empréstimos concedidos pelo BNDES para obras da empreiteira no exterior.
Se não fosse perigosa a retórica desses movimentos periféricos ao poder sustentados pelas verbas do governo federal, seria ridícula essa linguagem de sindicalistas que, como está no voto do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, querem transformar o país em um “sindicato de ladrões”. Vagner Freitas, da CUT, foi presidente da Bancoop antes de Vaccari.
Cartilha do BNDES
A preocupação do governo com o esquema montado no BNDES é tamanha, como revelou o grampo da PF da conversa de Lula com um diretor da Odebrecht, que o banco distribuiu internamente um “manual” dando orientações aos técnicos de como proceder em eventuais questionamentos da CPI. A preocupação do governo com o esquema montado no BNDES é tamanha, como revelou o grampo da Polícia Federal, que o banco estatal distribuiu internamente um “manual” dando orientações aos técnicos do banco de como proceder em eventuais questionamentos da CPI aberta pelo Congresso para investigar determinadas operações. As orientações abrangem todos os temas sensíveis, em especial as empreiteiras já alvos da Lava-Jato, e as operações “sigilosas” de empréstimos realizados com os chamados “países bolivarianos” e outros, como Cuba e Angola.
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