- Folha de S. Paulo
A gestão Dilma-2, como já dito aqui, acabou antes de começar. Subsiste uma presidente, cujo partido se desintegrou sob o peso da corrupção, tirando fotos com claque a soldo e convivendo com o governo de fato do PMDB, que entrega a sua Agenda Brasil cheia de coisas inexequíveis, oportunidades de negócios e alguns pontos interessantes.
Algo pode até virar realidade, mas a agenda não passa de um McGuffin, um recurso narrativo típico dos filmes de Alfred Hitchcock destinado a esconder a verdadeira trama. Como a dinheirama roubada por Marion Crane, que domina o início de "Psicose" só para escamotear a história do "über-psicopata" Norman Bates.
No filme patrocinado por Lula para desarmar o impeachment de Dilma, cuja gestação encontrava-se adiantada, Renan Calheiros ganha algo a ser desvelado para travar tudo. Isso, somado ao respiro que Joaquim Levy ganhou da Moody's, deu um alento inesperado ao governo.
Para o público, vende-se uma reedição do parlamentarismo branco do primeiro semestre, desta vez com a chancela do Planalto. Só que falta combinar com a Câmara sob o vilão predileto de todos, Eduardo Cunha.
Mas o McGuffin pode também desviar a atenção de um enredo peemedebista que vislumbra a queda de Dilma. Se ela ganhou alguma sobrevida na semana, suas fragilidades continuam as mesmas, e a vocação do PMDB não sugere solidariedade.
A presença ostensiva de Romero "líder de qualquer governo" Jucá e das digitais de José Serra na Agenda é detalhe nada desprezível. O PMDB toca então barco, à espera de uma Lava Jato cada vez mais aguda, inclusive contra si, e talvez novidades nas apurações do TSE.
E há também os atos de rua deste domingo (16), quando será possível aferir se as manifestações da era da rede social têm musculatura para ultrapassar a categoria de "evento de Facebook" e influenciar de forma mais decisiva o debate.
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