• Em entrevista exclusiva ao Globo, o vice-presidente, Michel Temer, diz que ‘vazamento foi inoportuno’, uma ‘espécie de rascunho’ de discurso
Jorge Bastos Moreno - O Globo
-BRASÍLIA- Em entrevista exclusiva ao GLOBO, depois do vazamento do áudio em que antecipa o resultado da votação do impeachment pelo plenário da Câmara, o vice-presidente Michel Temer reafirmou tudo o que disse na gravação, embora lamentasse o que chamou de “inoportuno acidente”. E disse que essa sua pregação continuará, independentemente do que decidirem a Câmara e o Senado sobre o afastamento da presidente Dilma Roussef. “Há muito que venho pregando a necessidade de um entendimento nacional. Inclusive, se você está lembrado, cheguei a ser mal interpretado quando disse que o país precisava de alguém para promover isso. Essa é a minha pregação. Isso é que está no áudio. E continuarei fazendo isso, independentemente do resultado da votação do impeachment, coisa que, aliás, se o governo tivesse feito antes, não chegaríamos aonde chegamos hoje”, disse Temer.
• Como que um homem tão cauteloso como o senhor comete um acidente desses?
Qualquer vazamento é sempre inoportuno, não vamos negar. Foi um acidente. Eu gravei no meu próprio celular algumas palavras e mandei para a avaliação de um amigo e, acidentalmente, acabei mandando para um grupo do WhatsApp.
• Por que o senhor gravou essa mensagem a uma semana da votação, quando ninguém ainda sabe sequer prever o resultado?
É explicável. Hoje (ontem) pela manhã comecei a ser questionado por amigos: “Temer, você já se preparou para o momento?”; “Você precisa já ter em mente o que vai falar, depois da votação”. Argumentaram também que, chegando em Brasília, nesses cinco ou seis dias que faltam para a votação, eu não teria tempo de refletir sobre o que dizer ao país. Alegaram também que eu estava há dois meses sem falar e que o país precisava ouvir uma palavra tranquilizadora da minha parte, com a responsabilidade que pesa sobre mim, sobretudo neste momento. Resolvi então gravar uma fala, para posterior elaboração mais apurada da mesma, uma espécie de rascunho. E parti da suposição de que a Câmara já havia votado e me dirigi, nessa mensagem, também ao Senado.
• Mas não foi um discurso precipitado?
Tudo o que está dito ali é o meu pensamento, é o que tenho dito. É só acompanhar os meus pronunciamentos. A única coisa que acrescentei de novo foi uma resposta a essa tentativa rasteira, que começou a surgir em São Bernardo do Campo e Santo André, principalmente, de que, se eu assumisse o governo, iria acabar com o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o Pronatec e outros programas do governo. Eu eu disse que, pelo contrário, vamos aprimorá-los.
• Esse vazamento não pode, de certa formar, influenciar no resultado da votação do próximo domingo?
Esse foi um fato isolado, acidental, mas que reflete o meu pensamento. A votação do impeachment é algo mais importante e vital para os interesses do país. A esta altura, creio que a maioria dos deputados já tem convicções firmes para tomar uma decisão tão importante.
• E as reações a esse vazamento, como estão sendo?
Tenho recebido manifestações de que, ainda que acidental, de certa forma, o fato teve o efeito positivo de esclarecer que eu tenho uma palavra a dar ao país, depois dessa votação. Repito, esse meu discurso vale para qualquer situação. Chegou o momento da união nacional. Nós, com as nossas responsabilidades, temos que buscar caminhos, e, dando uma palavra tranquilizadora para todos os segmentos, do trabalhador ao empresariado, de que temos que resolver as crises social, econômica e política.
Nenhum comentário:
Postar um comentário