Não costuma ser de bom agouro lançar um candidato muito antes da eleição. Na melhor das hipóteses, tudo se resume a um balão de ensaio; na pior, e mais frequente, o nome aventado sofre com a exposição precoce e não aguenta chegar ao início da disputa.
Como em tempos de Lava Jato essa máxima soa ainda mais verdadeira, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), decerto não a tinha em mente quando, na cerimônia de sua posse no último domingo (1º), anunciou: "Com Geraldo Alckmin [PSDB], vamos colocar o Brasil nos trilhos".
Doria sem dúvida deseja ver o governador de São Paulo na Presidência da República, e não por outro motivo insistiu, em sua primeira semana como prefeito, nas dobradinhas com Alckmin; ele próprio há de saber, contudo, que atualmente há uma distância muito grande entre essa pretensão e a realidade.
Não se trata, naturalmente, de limitação específica de Alckmin, embora o governador paulista —a exemplo de seus correligionários Aécio Neves, senador mineiro, e José Serra, ministro das Relações Exteriores— precise vencer obstáculos também no campo partidário antes de aspirar ao Planalto.
Todos os políticos que nos últimos anos disputaram a sério a Presidência correm o risco de se tornar carta fora do baralho. É que, com implicações maiores ou menores, tiveram seus nomes associados a pelo menos um dos recentes escândalos de corrupção.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta a situação mais delicada. Líder em todas as simulações de primeiro turno em pesquisa Datafolha de dezembro, o ex-presidente é réu em cinco ações penais e foi citado em delação da Odebrecht. Se for condenado em primeira e segunda instâncias, ficará inelegível por força da Lei da Ficha Limpa.
Os tucanos Alckmin, Aécio e Serra, por sua vez, são implicados nas delações premiadas da Odebrecht, entre outros casos, enquanto Marina Silva (Rede) —favorita em todos os cenários de segundo turno examinados pelo instituto Datafolha— foi mencionada na proposta de colaboração de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS.
Além do que possa atingir diretamente os pretensos candidatos, há a instabilidade de um sistema político que se verá sacudido pelos depoimentos comprometedores prestados por 77 ex-funcionários da Odebrecht. Qualquer projeção eleitoral, portanto, não passará de especulação —muito mais do que já o seria em condições normais.
Tais circunstâncias aumentam a responsabilidade do Judiciário. Após um processo sempre traumático de impeachment, o país precisa de uma disputa presidencial acima de qualquer suspeita —o que só ocorrerá se eleitores e candidatos souberem com máxima antecedência quem estará apto a ocupar o Palácio do Planalto a partir de 2019.
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