A esperança de mais um corte de juros, algo como um suspense positivo, foi realimentada pelo presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, numa entrevista à rádio CBN. A inflação continua baixa, “muito favorável”, e o Comitê de Política Monetária (Copom), explicou, vai esperar a próxima reunião para decidir se manterá a taxa básica em 6,75% ou se a reduzirá um pouco mais. Dirigentes do BC costumam ser cautelosos quando falam sobre decisões futuras, mas nesse caso há algo especial na declaração. Depois da última reunião, lembrou Goldfajn, o Copom indicou como possibilidade básica o encerramento do ciclo de cortes, mas sem eliminar a alternativa. A segunda possibilidade se mantém, segundo ele, por causa da inesperada evolução dos preços. A inflação baixa, afirmou, “surpreendeu todo mundo, incluído o BC”.
As projeções de inflação continuam recuando no mercado, como indica a pesquisa Focus, publicada semanalmente pelo BC. Em semanas a taxa esperada para este ano passou de 3,94% para 3,70%, número incluído no relatório divulgado ontem. A projeção para 2019 pouco variou, mas, de toda forma, passou de 4,25% para 4,24%, ficando 0,01 ponto abaixo da meta fixada para o próximo ano.
As estimativas de curtíssimo prazo também têm sido revistas. Em quatro semanas o número calculado para fevereiro caiu de 0,44% para 0,33%. No mesmo intervalo, o resultado previsto para março declinou de 0,43% para 0,25%.
O dado oficial de fevereiro deve ser conhecido na sexta-feira, quando sair a atualização do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mas tudo indica, por enquanto, uma variação moderada. O IPCA-15, prévia do indicador oficial, subiu 0,38% no mês passado, 0,77% no primeiro bimestre e 2,86% em 12 meses. Em dezembro de 2015 a alta acumulada em 12 meses chegou a 10,71% – uma das façanhas da última gestão petista.
Apesar da expectativa favorável quanto à inflação neste ano, o boletim Focus manteve a estimativa de 6,75% para a taxa básica de juros neste ano e de 8% para os dois anos seguintes. É difícil dizer se a projeção teria sido diferente, se a entrevista do presidente do BC tivesse ocorrido antes do encerramento da pesquisa, na sexta-feira. De toda forma, o cenário desenhado pelos economistas do mercado e das principais consultorias parece basicamente otimista, quando se considera o conjunto de riscos.
Nesse quadro, a inflação continua em queda neste ano, eleva-se um pouco em 2019 (para 4,24%) e novamente recua em 2020 (para 4%). A alta dos juros básicos para 8% acompanha principalmente essa evolução dos preços. O câmbio pouco varia. O preço do dólar sobe de R$ 3,30 em 2018 para R$ 3,38 no ano seguinte e para R$ 3,46 em 2020, numa evolução moderada, apesar da expectativa de alta dos juros americanos e, na pior hipótese, do risco de um aumento sensivelmente mais forte no mercado financeiro internacional. Há, também, o risco de maior protecionismo nos Estados Unidos e de maior turbulência no comércio global, com efeitos sobre o câmbio e os demais preços.
Internamente, há o problema de um quadro fiscal complicado pelo adiamento da reforma da Previdência. O governo conseguirá fechar as contas deste ano sem ultrapassar o déficit primário (sem juros) de R$ 159 bilhões e sem romper o teto de gastos, mas a próxima administração federal encontrará uma situação financeira extremamente difícil. O mercado, segundo se diz, já absorveu o problema da Previdência em 2018. Pode ser, mas nem por isso o problema desaparece ou, pior, deixa de se agravar.
Mas terá o BC absorvido também o adiamento da reforma? Mais precisamente: terão os membros do Copom eliminado esse problema de suas preocupações, neste momento, ou reduzido sua importância? A próxima reunião do comitê, marcada para os dias 20 e 21, trará algum esclarecimento sobre isso. Reformas têm de ocorrer para a inflação e os juros continuarem baixos, disse na entrevista o presidente do BC. Mas, apesar disso, haverá espaço para um corte de juros neste mês? A resposta poderá trazer novidade para todo o debate sobre a questão fiscal.
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