- Folha de S. Paulo
Governantes agem como nanicos e negligenciam proteção humanitária de refugiados
Ao cruzar a fronteira com o Brasil, a crise de imigração venezuelana sucumbiu à exploração política. Há meses, governantes batem boca enquanto famílias fogem do colapso econômico do país vizinho e do regime de Nicolás Maduro.
Candidata à reeleição, a governadora Suely Campos (PP) pediu à Justiça o fechamento da fronteira em Roraima para evitar a entrada de novos imigrantes. Dizia que o estado não tem condições de atender a tantas pessoas e acusava Brasília de “manter o caos” por “politicagem”.
O alvo era Romero Jucá (MDB), líder do governo Michel Temer e seu principal oponente. O senador, que disputa a reeleição, reagiu: foi ao Planalto, propôs também o fechamento da fronteira e acusou a rival de “aproveitamento político eleitoral”.
O Brasil se vende como gigante regional, mas alguns de seus políticos se comportam como nanicos. Ao aderir a pactos internacionais, o país recebe um dever de proteção humanitária. Mas só no papel.
A imaturidade não tem coloração partidária. Em 2014, quando haitianos entraram em massa no Acre, o governo local, do PT, trocou acusações com os paulistas do PSDB. Tucanos culpavam petistas pelo envio ao estado de milhares de imigrantes.
A Venezuela tem ainda uma contaminação extra. Por anos, o PT fechou os olhos para os problemas no país vizinho por questões ideológicas.
A omissão de governantes leva a absurdos, como a formação de milícias criminosas para expulsar venezuelanos de Pacaraima (RR), e a propostas fajutas, como a montagem de campos de refugiados e o fechamento da fronteira.
O chanceler Aloysio Nunes diz que bloquear a entrada no país é “inviável” e que a saída é levar os refugiados para outros estados. “Tem que baixar a bola, evitar a politização do assunto. Essa explosão é resultado de um mal-estar da população.”
Para agir como líder regional decente, o Brasil não pode se comportar como a Itália, que ameaçou bloquear seus portos enquanto imigrantes morriam no Mediterrâneo.
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