O investimento direto estrangeiro no Brasil segue encolhendo e acendeu um sinal de alerta em julho, ao despencar 40%. Conforme dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC), o investimento direto no país (IDP) ficou em US$ 3,9 bilhões no mês passado, em comparação com US$ 6,5 bilhões em junho. O BC já havia abandonado a previsão de que o IDP chegaria a US$ 80 bilhões neste ano. Agora aposta que o saldo será de US$ 70 bilhões, praticamente o mesmo patamar de 2017, que foi de US$ 70,7 bilhões e colocou o país como o quarto país d mundo que mais recebeu recursos diretos. Em agosto, entretanto, esses investimentos deram um salto expressivo. Até o dia 23, totalizavam US$ 8,5 bilhões e a estimativa é de que cheguem a US$ 9,5 bilhões.
Apesar disso. uma nova revisão pode ser necessária, porém. O investimento direto no país acumula US$ 33,8 bilhões neste ano, até agora. Para atingir os US$ 80 bilhões inicialmente estimados, a média mensal de ingresso teria de chegar a US$ 8,3 bilhões. Para repetir os US$ 70 bilhões de 2017, poderá ser menor, de US$ 5,8 bilhões, ainda assim uma meta desafiadora para o patamar atual. A reversão das expectativas começou a ficar mais evidente em abril, após a campanha eleitoral começar a ganhar corpo. A greve dos caminhoneiros no fim de maio confirmou a avaliação de que este ano tem motivos de sobra para ser diferente dos demais.
A turbulência política, as dúvidas em relação à implementação das reformas, a virtual paralisação do programa de concessões e a queda dos juros deixaram os investidores ressabiados. Como se tudo isso não bastasse, houve também influência do cenário internacional nada favorável aos emergentes, com a elevação dos juros americanos e o acirramento da guerra comercial promovida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Nem sempre a tensão eleitoral produz esse resultado. Na eleição presidencial passada, em 2014, o investimento direto no país cresceu quase 40%, de US$ 69,7 bilhões para US$ 97,2 bilhões, a segunda maior marca da história, depois dos US$ 101,2 bilhões de 2011. Em 2010 também houve crescimento vigoroso e o volume investido quase triplicou para US$ 88,5 bilhões. Influência claramente negativa houve apenas em 2002, quando o ex-presidente Lula foi eleito, e as dúvidas em relação a seu governo derrubaram o investimento estrangeiro praticamente pela metade, para US$ 16,6 bilhões.
Certamente influencia o ânimo do investidor estrangeiro a escassa oferta de boas oportunidades de negócio, que esfriou tanto no campo das transações privadas quanto no das concessões e privatizações. Com exceção de alguma atividade na área de energia elétrica, petróleo e gás, predominam os empecilhos políticos para a aprovação das operações, como está ocorrendo agora com as distribuidoras da Eletrobras.
O investimento direto no país tem mantido um estoque ligeiramente acima de US$ 700 bilhões, equivalente a 25% do PIB, caracterizando-se pela menor volatilidade em comparação com o investimento em carteira (portfólio). Em julho, o ingresso de US$ 8,2 bilhões surpreendeu. Já em agosto, a saída líquida soma US$ 5,894 bilhões, confirmando a tendência para a volatilidade desses fluxos.
Em benefício do Brasil, deve-se dizer que não é o único a ser afetado por esse movimento de saída de capital de curto prazo, impulsionado pela elevação dos juros americanos, que tornou bastante atraente o investimento em títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Dados do Instituto de Finanças Internacional (IIF) mostram que, em junho, houve uma aceleração da saída de investidores estrangeiros dos mercados emergentes de aproximadamente US$ 8 bilhões, entre títulos de dívida e ações quase em partes iguais, depois de um maio com saques de US$ 6,3 bilhões, tornando o segundo trimestre no pior para os investimentos de portfólio desde o fim de 2016.
Mesmo em queda, o fluxo de investimentos diretos vinha sendo suficiente para financiar as transações correntes. Em julho, porém, depois de quatro meses de superávit, o resultado em conta corrente ficou negativo. No balanço do ano, o déficit chegou a US$ 8,1 bilhões e o BC projeta que fechará o ano em US$ 11,5 bilhões, ou 0,6% do PIB. O saldo da balança comercial vinha ajudando a engordar as receitas em dólar. Mas foi afetado pela greve dos caminhoneiros em maio, e teve impacto negativo de operação ficta de plataformas de petróleo em julho, que influenciou tanto as exportações quando as importações.
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