- Valor Econômico
Mantida correlação de forças no Senado, segundo pesquisas
A desconcertante liderança de Lula nas pesquisas eleitorais não é a única derrota em curso da Operação Lava-Jato. No Senado, palco de um dos maiores confrontos entre o Legislativo e o Judiciário por conta das investigações, o senador Renan Calheiros (MDB) está com sua reeleição praticamente assegurada. Junto com ele estão de volta todos os principais investigados pelas operações iniciadas ao amanhecer e que viraram de ponta cabeça o mundo da política, segundo as pesquisas divulgadas na última semana. Em resumo, pelo menos na chamada Câmara Alta o efeito da Lava-Jato é zero.
A renovação, como um todo, é mínima, pois os "novos senadores" que estão à frente nas pesquisas eleitorais ou já ocuparam o cargo ou são políticos de velha cepa, como Sarney Filho, o Zequinha, do clã Sarney, cuja irmã Roseana, mais uma vez concorre ao governo do Maranhão.
O filhotismo, aliás, é outra praga que os novos tempos enunciados pela Lava-Jato não conseguiram erradicar. "As cadeiras seguirão nas mãos de oligarquias conhecidas", diz o consultor e jornalista Weiller Diniz, vice-presidente da Máquina Cohn & Wolfe, do alto de sua experiência de 30 anos no Senado, que se dedica a esmiuçar e decifrar números relativos ao Congresso para as grandes corporações do pais.
O cenário hoje registrado pelas pesquisas é uma fotografia do momento, pode mudar sobretudo após o início da propaganda eleitoral gratuita. Mas os levantamentos já feitos nos 26 Estados e Distrito Federal, sobretudo aqueles com a marca Datafolha e Ibope, indicam que o MDB - um dos partidos mais atingidos pelas investigações - continuará no comando do Senado, pois está em vias de eleger 12 senadores que se somariam aos 4 que têm mandato até 2022. Perderia 1 cadeira [hoje tem 17], mas continuaria com a maior bancada.
Ao menos 7 dos atuais caciques do MDB devem se reeleger: Eunício Oliveira (CE), atual presidente da Casa, Renan Calheiros (AL), líder da bancada, Jader Barbalho (PA), Garibaldi Filho (RN), que também já presidiu o Senado, Eduardo Braga (AM), ex-ministro de Minas e Energia, Roberto Requião (PR), da ala dissidente da atual direção partidária, e Romero Jucá (RR), uma espécie de faz-tudo no governo Temer (até a saída da liderança, ontem, não passa de uma jogada eleitoral). Eles detêm o controle da Casa. Entre os "novos", José Fogaça (RS) e Jarbas Vasconcellos (PE) - 2 ex-senadores - devem engrossar a bancada, mas provavelmente serão minoritários.
Na prática, isso significa que Renan Calheiros, que responde a uma dezena de processos no Supremo Tribunal Federal (STF), alguns deles decorrentes da Lava-Jato, tem boas chances de voltar à presidência da Casa. Na realidade seria o favorito. Na gestão Rodrigo Janot, o Ministério Público Federal chegou a pedir a prisão de Renan, então presidente do Senado, com base num inquérito que três meses depois pediria para arquivar. É o inquérito baseado nas declarações do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado que envolvia entre outros o ex-presidente José Sarney e o atual líder da bancada, Romero Jucá.
Cinco anos depois dos protestos de junho de 2013, quando uma das reivindicações era a derrubada da PEC 37, que limitava o poder de investigação do Ministério Público, as urnas querem dizer alguma coisa. Talvez o eleitor não esteja gostando do tratamento diferenciado dado aos partidos ou o empenho quase obsessivo para manter Lula atrás das grades até a eleição. É quase uma confissão de que Lula está preso para não concorrer, como dizem os detratores da Lava-Jato.
O PT, que junto com o MDB foi estraçalhado nas investigações, de acordo com as pesquisas até aqui estaria elegendo 9 senadores que, somados aos 2 que detêm mandatos até 2023, formariam a segunda maior bancada do Senado. Não é pouca coisa. Em 2016, o partido parecia nocauteado. Em 2018 reaparece revigorado, com a liderança de Lula nas pesquisas de opinião e o vazio deixado pelo governo Temer e tem tudo para se tornar a segunda maior bancada do Senado, eleger 5 governadores e 55 deputados federais, o que o deixará entre os grandes da Câmara.
Para o Senado, os nomes mais competitivos do PT, no momento, são Humberto Costa (PE), Lindbergh Farias (RJ) e Paulo Paim (RS) devem voltar. O vereador Eduardo Suplicy (SP), o ex-governador Jaques Wagner (BA) e a ex-presidente da República Dilma Rousseff (MG) lideram as pesquisas e dificilmente ficarão sem uma das 2 vagas em seus Estados. Mas Lula, pelo retrato do momento, não terá apenas o PT no Senado a partir de 2019 - no mesmo balaio ele pode incluir aliados que estão se elegendo em outubro como Zequinha Sarney, Renan e o atual presidente da Casa, Enuncio Oliveira.
Quem ainda não deslanchou - assim como seu candidato Geraldo Alckmin - foi o PSDB. Os tucanos têm 5 candidatos com boas chances de eleição e se tornariam a terceira maior força do Senado, seguida do PSB e do PP com 6 senadores cada. O PP está elegendo 5 nomes.
"Ao contrário do que se imaginava, a renovação [nomes novos, não contabilizados ex- senadores, ex-governadores ou deputados] é de apenas 13%, com destaque para reeleição dos principais alvos da Lava-Jato em todos os partidos", destaca Diniz. O levantamento aponta também para maior fragmentação no Senado.
Atualmente 15 legendas têm senadores. Além delas passarão a integrar o Senado o PSC, o PHS, o Psol e o PV, totalizando 19 partidos em uma casa de 81 membros, dificultando a formação da maioria. A eleição para o Senado é majoritária, mas sofre a influência das coligações proporcionais (principal razão dos quase 30 partidos representados na Câmara) feitas para eleições de deputados, que somente serão banidas a partir das próximas eleições.
As pesquisas já permitem desenhar o cenário mais provável da distribuição do poder no Senado Federal. São 54 as cadeiras em disputa, dois terços da composição da Casa (81 senadores). O mais provável é a manutenção da atual correlação de forças, o que ainda é cedo para dizer qual será a repercussão em relação ao próximo governo, depende do eleito, mas certamente uma provação a mais para as investigações conduzidas pelo Ministério Público, ao menos no que diz respeito ao modelo atua
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