- Folha de S. Paulo
Qual será a estratégia de Bolsonaro para ligar com o Legislativo?
“Eu odeio o Bolsonaro, porque ele me obrigou a votar no PT.” A piada, que circulou no segundo turno da eleição presidencial, ressurgiu em minha mente nos últimos dias. Achei que teria de elogiar o presidente eleito pela indicação de Mozart Ramos para comandar o Ministério da Educação, mas fui salvo pela bancada evangélica.
Os pastores não gostaram da ideia de ver alguém com perfil técnico chefiando o MEC e pressionaram Bolsonaro, que, ao que tudo indica, cedeu, substituindo Ramos por Ricardo Vélez Rodríguez. Pelo que li na imprensa, Vélez, que defende entusiasmadamente o Escola sem Partido e vários outros itens da pauta conservadora, vai compor, ao lado do futuro chanceler, Ernesto Araújo, a ala mais ideológica do governo.
Até entendo que Bolsonaro precise distribuir brinquedos para seus apoiadores mais fiéis, mas tinha de sacrificar logo a Educação?
A forma como o presidente eleito foi e voltou na indicação de ministros faz pensar sobre a governabilidade, em especial as relações com o Congresso. Por enquanto, o futuro mandatário não procurou compor com partidos políticos. Tem preferido fazer acenos para bancadas temáticas, como a ruralista, a evangélica e a da segurança. Até acredito que ele possa, num primeiro momento, enquanto ainda goza do frescor das urnas, prescindir dos partidos. Mas essa é uma condição que tem prazo para acabar. Pode durar seis, oito meses, mas, depois, o vigor eleitoral irá refluir e os apoios não virão mais tão facilmente. Aí vai ficar difícil governar sem as legendas.
Bolsonaro, que passou 27 anos na Câmara, sabe que não precisará apenas formar maioria para aprovar reformas. Ele terá também de agregar suporte para não sucumbir a pautas-bomba, que brotam por geração espontânea num Congresso corporativista e pouco responsável.
A grande incógnita nesta montagem de governo, me parece, é a estratégia para lidar com o Legislativo. Espero que Bolsonaro tenha uma.
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