O programa serviu de biombo para que o contribuinte brasileiro pagasse empréstimos feitos a Cuba
É indiscutível que o presidente eleito Jair Bolsonaro foi açodado ao insistir em críticas, corretas, ao programa Mais Médicos, antes de assumir, e sem que o governo Temer tivesse algum plano de contingência para reduzir os danos de uma reação extemporânea de Cuba de, sem o aviso prévio de praxe, retirar os profissionais do país. Aconteceu o que se temia, mas se sabe hoje que Havana deve ter usado as declarações do futuro presidente, adversário político do aliado PT, para encerrar às pressas um programa cujo objetivo meritório era apenas um pretexto para encobrir grande operação financeira de ajuda petista à ditadura da Ilha, com recursos do Erário brasileiro. Mas, se o objetivo era impedir qualquer auditoria no acordo, não deu certo. Informações e telegramas despachados da embaixada brasileira em Cuba, revelados pela “Folha de S. Paulo”, levantaram apontado véu que cobria a operação.
O enredo é ardiloso. A ideia do Mais Médicos é de Cuba, aceita com previsível bom grado pela sempre prestimosa presidente Dilma Rousseff, quando se tratava de atender apedidos de aliados ideológicos. Aliás, característica dos petistas em geral. Houve alguma discussão sobre custos, mas nunca acerca do arcabouço fantasioso do programa, descrito, com todas as palavras, segundo os documentos divulgados, como um mecanismo financeiro para Cuba pagar ao Brasil dívidas que a Ilha contraía junto ao grande aliado sul-americano. Inclua-se no caso o projeto do porto de Mariel, executado pela sempre presente Odebrecht, com financiamento do BNDES.
Quer dizer, os mais de 8 mil médicos cubanos foram apenas biombo para que o contribuinte brasileiro pagasse empréstimos feitos a Cuba, em troca da cessão de serviços médicos. Pode-se defender o escambo, mas tudo teria de ser feito às claras: os custos, o encontro de cifras, o fluxo do dinheiro entre Havana e Brasília.
Para fechar o circuito dessa trama nas sombras, convocou-se a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), organismo multilateral, para ser um vértice neste triângulo, inclusive receber o dinheiro do Brasil.
Todo este arranjo permitiu que o Congresso brasileiro ficasse alijado das negociações. PT e Cuba atuaram como é de seu feitio: sem controle externo. To doeste grande negócio para ajudar o regi medos Castro reforçou a imagem do PT de ostentar uma postura despreocupada com os chamados interesses nacionais, quando está em jogo a vontade de algum aliado ideológico no exterior.
Outro exemplo foi a leniência do então presidente Lula quando o boliviano Evo Morales, companheiro bolivariano, expropriou uma refinaria da Petrobras. Sem qualquer reação de Brasília. E para revelar de vez o verdadeiro caráter deste Mais Médicos, anteontem 87% das vagas que o Ministério da Saúde abri upara profissionais interessados em substituir cubanos tinham sido preenchidas. O programa poderia ter sido lançado sem Cuba. Mas o principal objetivo não era mesmo atender brasileiros carentes.
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