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Pai sem sossego
Depois de um período de calmaria aparente, o bicho voltou a morder os calcanhares do senador eleito Flávio Bolsonaro com a decisão da procuradora-geral da República Raquel Dodge de incumbir o Ministério Público Federal (MPF) do Rio de apurar se Flávio praticou crime de lavagem de dinheiro na negociação de imóveis.
Caberá ao MPF responder à seguinte pergunta: as “negociações-relâmpago” de imóveis pelo filho do presidente resultaram ou não em um aumento patrimonial incompatível de Flávio? Se a resposta for sim, ele passará à condição de processado. Será mais um rolo que o senador terá de administrar.
Desde maio do ano passado que o MPF está de olho em Flávio. Chegou a ele a partir de uma investigação sobre grilagem de terras envolvendo milicianos. Foi assim também que chegou a Fabrício Queiroz, assessor de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio, que empregou parentes de milicianos no gabinete do seu patrão.
Não se descarta a hipótese de que Flávio tenha algo a ver com o laranjal do PSL, seu partido e o do pai. Falsas candidaturas lançadas no ano passado serviram para desvio de dinheiro público. Crescem os indícios de que isso aconteceu por toda parte, especialmente no Rio, Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Sul.
É grande o incômodo de Jair Bolsonaro com o escândalo que ameaça tragar o PSL e respingar em sua trajetória de candidato a presidente da República. A necessidade de se aprovar no Congresso a reforma da Previdência poderá salvar Bolsonaro de abalos maiores, mas isso não é garantia para tudo e para todo sempre.
Bolsonaro e o plim, plim
Bebianno estragou tudo
O que mais deixou o presidente Jair Bolsonaro furioso com o ex-ministro Gustavo Bebianno foi a divulgação do áudio onde ele diz que a Rede Globo é sua inimiga, e que o diretor de relações institucionais da Globo, Paulo Tonet, não deveria ser recebido por Bebianno no Palácio do Planalto.
Ora, Tonet seria recebido em audiência que constava da agenda pública de Bebianno postada na internet. Nada havia, pois, de clandestino. Tonet já esteve com vários ministros do governo, alguns deles militares. Representa a Globo em Brasília. Conversa com todo mundo, à direita e à esquerda. É um executivo respeitado.
Ocorre que Bolsonaro estava convencido de que mais adiante poderia fazer as pazes com a emissora, e assim agindo – imaginava ele -, a Globo talvez viesse a diminuir suas eventuais críticas ao governo. A reação da Globo ao que disse Bolsonaro a propósito de Tonet poderá inviabilizar uma possível reaproximação.
De resto, como observou Bolsonaro em uma de suas mensagens de áudio para Bebianno, como ficariam suas relações com as demais emissoras, estas sim, alinhadas ao governo? Certamente não ficariam boas. Elas poderiam se sentir traídas. Bebianno, portanto, errara feio concordando em se reunir com Tonet.
Bebianno comentou em mensagem de áudio enviada a Bolsonaro que ele, o presidente, tinha sido “envenenado”. Referia-se ao que mais tarde chamou de “macumba psicológica” operada por Carlos Bolsonaro na cabeça do pai para jogá-lo contra seu ministro. Foi Carlos que envenenou as relações do pai com a Globo.
Abaixo, a transcrição da mensagem de áudio de Bolsonaro sobre o assunto:
“Gustavo, o que eu acho desse cara da Globo dentro do Palácio do Planalto: eu não quero ele aí dentro. Qual a mensagem que vai dar para as outras emissoras? Que nós estamos se aproximando da Globo. Então não dá para ter esse tipo de relacionamento. Agora… Inimigo passivo, sim. Agora… Trazer o inimigo para dentro de casa é outra história. Pô, cê tem que ter essa visão, pelo amor de Deus, cara. Fica complicado a gente ter um relacionamento legal dessa forma porque cê tá trazendo o maior cara que me ferrou – antes, durante, agora e após a campanha – para dentro de casa. Me desculpa. Como presidente da República: cancela, não quero esse cara aí dentro, ponto final. Um abraço aí.”
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