- O Globo
Depois dos cortes, Carlos Bolsonaro atacou o Pedro II. Seus tuítes, que misturam ideias confusas e mau português, mostram que o país precisa investir na Educação
Os cortes na Educação e o ataque às universidades federais ameaçam produzir um efeito bumerangue para o governo. Depois de quatro meses, Jair Bolsonaro enfrentou o primeiro protesto de peso. Os estudantes prometem um segundo round na quarta-feira. Foram convocadas manifestações em diversas capitais.
Na segunda passada, alunos do Pedro II iniciaram o movimento nas ruas da Tijuca. Caminharam até o portão do Colégio Militar, onde o presidente participava de mais uma solenidade fardada. A Polícia do Exército cercou os jovens, mas não impediu que os gritos abafassem a cerimônia. Armados de livros e cadernos, os estudantes mostraram que a “balbúrdia” tem potencial para incomodar.
O país já passou por outros arrochos, mas os governos simulavam constrangimento ao tirar verbas da Educação. Agora vive-se uma era de apologia da ignorância. Os cortes são festejados pelas autoridades, em tom de vingança contra o conhecimento. Cada bolsas de estudos a menos vira uma vitória sobre o “marxismo cultural”.
O ministro Abraham Weintraub bloqueou R$ 2 bilhões das universidades sob a alegação de que elas promoveriam “bagunça” e “evento ridículo”. O adjetivo descreve bem sua performance nos últimos dias. Ele confundiu Franz Kafka com quitute árabe e usou “chocolatinhos” para justificar os cortes. No meio da demonstração, o chefe comeu um dos bombons.
Carlos Bolsonaro, chefe da milícia virtual do pai, tentou difamar o Pedro II como “polo formador de militantes políticos”. Chegou atrasado. A instituição tem 181 anos e ajudou a formar cinco presidentes da República, nenhum deles de esquerda. Estão na lista de ex-alunos os marechais Floriano Peixoto e Hermes da Fonseca. Os tuítes do vereador, que misturam ideias confusas e mau português, são uma prova de que o país precisa investir mais no Ensino Básico.
A tesourada do MEC também ameaça despertar a oposição do sono profundo. Na noite de sexta, Fernando Haddad reapareceu na Cinelândia. O palanque reunia mais partidos do que a coligação eleitoral que o levou ao segundo turno. Faltou o PDT, onde Ciro Gomes tem perdido protagonismo para uma deputada de 25 anos.
“Tira as patas da Educação, Bolsonaro. Devolva o dinheiro dos nossos meninos”, cobrou o petista. Ele disse que Bolsonaro vive “num mundo paralelo ao Brasil” e que o país é governado à distância por “aquele astrólogo de Richmond”. Há ministros com gabinete no Planalto que concordariam com a avaliação.
Os discursos inflaram as expectativas pelos atos de quarta-feira. O deputado Marcelo Freixo prometeu um “dia histórico” e disse que alunos e professores vão se unir para “derrubar o governo”. Haddad foi mais comedido, mas garantiu que Bolsonaro vai levar “um grande susto”. A ver.
Diálogo entre dois militares no Palácio do Planalto, na última quarta, sobre a melhor forma de acalmar Olavo de Carvalho.
— Temos que mandar um chá de camomila para ele.
— Melhor mandar chumbinho!
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