- Folha de S. Paulo
Estilo Bolsonaro de governar parece premiar o 'fominha' em detrimento da consagração do time
Ao celebrar o acordo com a União Europeia, não ocorreu ao presidente Jair Bolsonaro agradecer nenhum dos antecessores que, por anos, se esforçaram para tentar alcançar o mesmo desfecho.
Ao contrário, horas depois do anúncio, Eduardo Bolsonaro, filho do mandatário, resumiu nas redes sociais o sentimento da cúpula. Em seis meses, disse ele, Bolsonaro entregou o que nenhum presidente foi capaz de fazer em 20 anos.
Dessa forma, como delineia Eduardo, o presidente trabalha sozinho, guiado pelos próprios ideais. E desconsidera o trabalho feito por técnicos e diplomatas (a propósito, "globalistas") que por anos depuraram as bases da negociação e testaram os limites dos europeus e dos industriais brasileiros.
A reação do núcleo duro do presidente denuncia algo mais sobre o estilo Bolsonaro de governar, que parece premiar o "fominha" em detrimento da consagração do time.
Neste momento acompanhamos o contorcionismo do governo nas negociações pela reforma da Previdência.
Embora a equipe econômica tenha advogado pelo fim dos privilégios e Paulo Guedes criticado o "lobby das corporações", o PSL e o próprio presidente atuam para dar tratamento especial a policiais. O argumento é que a categoria foi determinante para a eleição do grupo de Bolsonaro.
Além de atrasar a tramitação da reforma, esta pressão na base do governo está estimulando o discurso do "meu também" entre outros parlamentares, o que se prosperar pode desmilinguir de vez a proposta.
Ironicamente, são políticos do centro ("corruptos" por radicais bolsonaristas) que vêm defendendo a reforma "apesar de Bolsonaro".
Neste contexto, não seria injusto apostar que o presidente e seus aliados poderão se gabar, ao fim desta jornada, de ter alcançado a aprovação da Previdência sozinhos.
O texto para as redes sociais é previsível: Bolsonaro entregou uma reforma que dois ex-presidentes foram incapazes de fazer.
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