- O Estado de S.Paulo
Economia precisa de ampla agenda de reformas para reduzir desemprego e crescer
Cada vez mais a partir de agora os ativos brasileiros, em particular a Bolsa de Valores, passarão a reagir com maior intensidade aos indicadores de atividade econômica, deixando de lado o foco apenas na situação fiscal do País e na aprovação da reforma da Previdência pelo Congresso.
Na mais recente pesquisa Focus, do Banco Central, o consenso das projeções de analistas aponta um crescimento de 0,82% do PIB neste ano. Como a frustração com o desempenho da economia em 2019 já está no preço dos ativos, o foco agora é com o PIB de 2020, cuja estimativa dos analistas é de uma expansão de 2,10%.
Assim, ao longo deste segundo semestre, os investidores devem ficar mais sensíveis aos dados de confiança de empresários e consumidores, de desemprego, de vendas ao varejo e de produção industrial.
No curto e médio prazos, o nome do jogo para novos ganhos no Ibovespa, principal índice do mercado acionário doméstico, será o diferencial de crescimento do PIB entre o Brasil e o resto do mundo, especialmente os desenvolvidos, como os Estados Unidos e os da zona do euro.
Obviamente, sem aprovação de uma reforma da Previdência robusta, um colapso nas contas fiscais é quase inevitável e isso não só frustraria o crescimento econômico, como elevaria o risco de o País entrar em recessão.
Mas os investidores estrangeiros, por exemplo, vão exigir mais do que a sustentabilidade da dívida pública e o controle do déficit fiscal antes de voltar a aplicar seus recursos em ativos brasileiros. O crescimento do PIB a taxas mais elevadas será essencial para a volta do capital estrangeiro.
Em 2019, até o dia 1.º deste mês, o saldo acumulado de capital estrangeiro na Bolsa estava negativo em R$ 11,260 bilhões. Os investidores estrangeiros retiraram seus recursos da Bolsa brasileira apesar do Ibovespa ter registrado, nesse período, uma alta de 16,20%.
O crescimento do PIB ganha maior relevância com a piora do ambiente externo, especialmente com o acirramento da tensão comercial entre Estados Unidos e China. A imposição de mais tarifas de importação de produtos chineses pelos americanos e a consequente retaliação por parte da China, que deixou a sua moeda desvalorizar para além do patamar psicológico de 7 yuans por dólar, reacenderam os temores de uma recessão global.
Como o foco da equipe econômica foi apenas na aprovação da reforma da Previdência nos primeiros sete meses de governo, pouco se avançou em outras agendas para estimular o investimento e o consumo.
A liberação de saque de R$ 500 das contas ativas e inativas do FGTS é positiva, mas deve ter um impacto limitado no crescimento, apesar de o governo estimar uma injeção de R$ 30 bilhões na economia em 2019 e de R$ 12 bilhões em 2020.
Já a Medida Provisória da Liberdade Econômica, que reduz a burocracia e os entraves à produção e a novos empreendimentos, foi aprovada numa comissão especial, mas está parada na Câmara dos Deputados.
A reforma tributária, essencial para melhorar o ambiente de negócios, encontra-se numa encruzilhada de diferentes propostas – da Câmara, do Senado, de governadores, de empresários e do próprio governo. Difícil é enxergar um consenso para avançar em mudanças que simplifiquem o nosso complexo sistema de impostos.
Não à toa, os índices de confiança de empresários e consumidores seguem patinando. Em julho, a confiança da indústria caiu para o menor nível desde outubro de 2018. Em médias móveis trimestrais, a confiança do consumidor registrou a quinta queda consecutiva.
Por outro lado, o Índice de Confiança Empresarial subiu em julho pelo segundo mês seguido, com a aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno na Câmara.
Outro fator que pode melhorar o sentimento de empresários e consumidores é o corte da taxa Selic. Na sua última reunião, o Copom baixou os juros em 0,50 ponto porcentual, para 6,0%. A inflação vem surpreendendo para baixo e as expectativas inflacionárias seguem bem comportadas, o que, com a atividade fraca, permitirão ao BC continuar reduzindo a Selic.
Todavia, juros mais baixos não conseguirão, por si só, alavancar a economia. Sem a aprovação de uma agenda ampla de reformas, dificilmente haverá uma redução do desemprego, que atinge quase 13 milhões de brasileiros. E sem emprego, o crescimento não vem.
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