- O Globo
Sua principal decisão sobre privatizações foi... criar uma nova estatal
Jair Bolsonaro precisa se explicar aos 57,7 milhões de eleitores aos quais prometeu um governo liberal na economia, com a venda de estatais.
Candidato, atravessou 2018 repetindo: “Vamos privatizar logo aquelas quase 50 criadas pelo PT, e ainda sobram 100.”
Presidente, viu passar na janela do palácio 340 dias. Sua principal decisão sobre privatizações foi... criar uma nova estatal.
É de Bolsonaro a 638ª empresa da União, a NAV Brasil Serviços de Navegação Aérea S.A. É um novo gigante do setor público à beira-mar, com sede no Rio e duas mil pessoas a bordo da folha salarial.
A certidão de nascimento da NAV Brasil foi estampada dias atrás no Diário Oficial. Curiosamente, sem a assinatura do ministro da Economia.
É caso raro, talvez único, de criação de empresa controlada pela União sem aval do responsável pelo caixa do governo — no caso, Paulo Guedes, esteio da fração liberal no condomínio de poder presidido por Bolsonaro.
A NAV surge numa constelação federal composta por 46 estatais sob controle direto, 159 subsidiárias, 233 coligadas e 199 com participação acionária da União.
Elas fazem de tudo, de petróleo a brincos eletrônicos (chips) para bois, porcos e ovelhas. Algumas levam década e meia desenhando coisas no papel, como o trem-bala Rio-São Paulo.
Em setembro abrigavam 481,8 mil empregados. Esse é um ambiente essencialmente masculino: apenas 36% são mulheres, com acesso restrito a 21% dos postos de comando.
De cada dez sob controle direto do Estado, quatro sobrevivem somente com repasses do Tesouro. Custam R$ 54,7 milhões por dia, ou R$ 19,9 bilhões neste ano.
Isso equivale a 71% da dinheirama que a Petrobras efetivamente vai desembolsar, no próximo dia 27, em pagamento pelas áreas no pré-sal leiloadas no mês passado.
Governo vendeu, uma estatal comprou. No mercado financeiro esse tipo de negócio tem nome: “Zé com Zé”.
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