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Generosa vivandeira de quartel
Quantas vezes você não leu que o presidente Jair Bolsonaro visitou uma unidade militar, participou de uma solenidade militar, condecorou militares, ou em discursos no Palácio do Planalto exaltou os prodígios dos seus ex-companheiros de farda? Sem falar das vezes que justificou a ditadura militar de 64 e o uso de torturas contra prisioneiros políticos?
Chamá-lo de vivandeira não seria um exagero. Foi o marechal Castelo Branco, o primeiro general-presidente da ditadura, que devolveu a expressão ao vocabulário político do país. Em agosto de 1964, no auditório da Escola de Comando e Estado Maior do Exército, poucos meses depois de ter sido empossado, ele disse assim a certa altura do seu discurso:
– Eu os identifico a todos. E são muitos deles, os mesmos que, desde 1930, como vivandeiras alvoroçadas, vêm aos bivaques bolir com os granadeiros e provocar extravagâncias do poder militar.
Vivandeiras eram mulheres que seguiam as tropas e lhes prestavam favores. Mas Castelo Branco referia-se a políticos e empresários que assediavam chefes militares para que interviessem na vida do país. Foi como se comportou Bolsonaro depois que o Exército o afastou dos seus quadros. É como se comporta desde que chegou à presidência.
“Nada fazemos sozinhos. A grande âncora do meu governo são as Forças Armadas”, disse Bolsonaro, ontem, em um almoço no Clube Naval, em Brasília, comemorativo da promoção de novos oficiais das Forças Armadas. “Que amanhã, se Deus assim permitir, os senhores estarão aqui na frente, muito bem representando o nosso Brasil. Novos desafios, com Deus no norte”, completou.
Mais cedo, em cerimônia no Planalto, ele havia elogiado Garrastazu Médici, o terceiro general-presidente do ciclo de 64, e dito que os militares são responsáveis pela garantia da democracia e da liberdade. “Por momentos que veio a tragédia em nosso país, as Forças Armadas sempre se fizeram presentes. Alguns colegas nossos perderam a vida, mas nós resistimos”, proclamou.
Do ministro da Defesa, o general Fernando Azevedo e Silva, Bolsonaro ouviu que as Forças Armadas têm recebido do governo “um cuidado especial”. E citou a aprovação do projeto de reestruturação da carreira e da aposentadoria dos militares. “Faltava preencher um vazio de décadas, resgatar o que temos de mais valioso: o militar e sua família”, disse o general.
Não falta mais.
O projeto manteve os militares como única categoria do país que não terá idade mínima para se aposentar e a única entre os servidores que continuará com aposentadoria integral. De início, a economia projetada pela equipe econômica do governo era de RS$ 92,3 bilhões em 10 anos. Mas como a reestruturação da carreira custará 86,8 bilhões de reais, caiu para R$ 10,455 bilhões.
Um presentão!
Haverá na história vivandeira de quartel mais sedutora do que Bolsonaro? Resta imaginar sobre o que ele espera receber em troca.
Os maus modos do ministro da Educação
Audiência relâmpago
Os que ficaram sabendo à época jamais esqueceram. E fazem questão de lembrar no cafezinho da Câmara dos Deputados ou nos corredores do Senado sempre que o assunto das conversas gira em torno do ministro Abraham Weintraub, da Educação.
Passado algum tempo desde sua posse, ele recebeu em audiência a diretora do Escritório da UNESCO em Brasília e Representante da UNESCO no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto, nomeada para o cargo em julho do ano passado.
Marlova é mestre em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Foi bolsista da Fundação Kellog e da Eisenhower Exchange, tendo participado de um programa acadêmico de intercâmbio profissional nos Estados Unidos.
Aprofundou seus estudos sobre o Estado de bem-estar social na Suécia, como bolsista da Federação Sueca de Assistentes Sociais, e completou o treinamento executivo em Administração Pública no Instituto de Administração Pública de Nova York.
– Ministro, estou aqui para me apresentar e me pôr à sua disposição. É um prazer conhecê-lo – disse Marlova ao ser admitida no gabinete de Weintraub. Que respondeu de bate pronto:
– Sei quem é a senhora. É uma comunista. Não tenho prazer em conhecê-la.
– Não, não sou comunista – retrucou Marlova.
– É, é sim – insistiu o ministro.
Então a diretora da UNESCO deu-lhe as costas e saiu.
Foi a audiência mais curta da administração de Weintraub até agora.
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