- O Globo
O bolsonarismo aparelhou a TV Escola, mantida pelo MEC para formar professores e alunos. Ontem a emissora estreou uma série estrelada pelo guru Olavo de Carvalho
Olavo de Carvalho, quem diria, foi parar no horário nobre. O guru do bolsonarismo é a estrela da série “Brasil: A Última Cruzada”, que começou a ser exibida ontem pela TV Escola. Trata-se de uma emissora pública, mantida pelo Ministério da Educação e dirigida à formação de professores e alunos.
A série apresenta uma visão peculiar da História. Em tom épico, exalta a “coragem” dos colonizadores portugueses e o “amor pelo Brasil” de dom Pedro I. O objetivo, segundo o produtor Filipe Valerim, é “combater ideologias perversas” e “despertar a consciência e o patriotismo” dos telespectadores.
Além de Olavo, o programa dá voz a figuras como Luiz Philippe Orleans e Bragança, deputado do PSL, e Rafael Nogueira, novo presidente da Biblioteca Nacional. Depois de defenderem a ditadura militar, os bolsonaristas agora querem reabilitar a monarquia.
“Isso é negacionismo puro”, diz o historiador Thiago Krause, da UniRio. “A série ouve gente desqualificada e defende teses que não são aceitas por ninguém na academia. Estão usando uma emissora pública para fazer propaganda e fortalecer a visão ideológica do grupo do presidente”, critica.
Não é uma iniciativa isolada. Na semana que vem, a TV Escola começará a exibir a série “Meia Volta, Vou Ler”. A promessa é mostrar “a qualidade das escolas cívico-militares”. Coincidentemente, a maior vitrine da política educacional de Bolsonaro.
A guinada da emissora é conduzida pelo diretor Francisco Câmpera. Ele assumiu o cargo depois de assinar artigos elogiosos ao presidente. Procurado pela coluna, disse que não poderia dar entrevista.
A invasão dos olavistas é vista com perplexidade por funcionários que trabalharam na TV Escola sob diferentes governos. “Estão desmontando tudo o que não vem deste pseudofilósofo”, diz a ex-diretora Regina de Assis. Ela foi demitida em setembro, depois de reclamar do aparelhamento da emissora.
“O que está acontecendo é um retrocesso grave, combinado com o mau uso de recursos do MEC. Isso deveria ser analisado pelo Ministério Público ”, afirma.
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