Os
embaixadores da Noruega e da Alemanha em Brasília alertam que o Brasil deve
tomar muito cuidado nos próximos três meses na Amazônia. São os de maior risco
de desmatamento no ano florestal que termina em julho. Nils Gunneng, da
Noruega, e Heiko Thoms, da Alemanha, afirmam que há meio bilhão de reais sendo
usados do Fundo Amazônia e lembram que os recursos, quase R$ 3 bilhões, que
estão congelados precisam apenas que o Brasil restaure o conselho do Fundo. “O
Brasil não está sozinho no combate ao desmatamento”, diz o alemão Thoms. “Tem
um mercado enorme para um país que tem florestas e queira mantê-las em pé”,
completa o norueguês Gunneng.
Noruega e Alemanha são os financiadores do Fundo Amazônia, um bem-sucedido mecanismo em que os dois países doaram recursos para apoiar programas de proteção ambiental. Ele funcionava perfeitamente. Em junho de 2019, o ministro Ricardo Salles dissolveu o conselho que reunia representantes do governo federal, dos estados amazônicos, da sociedade e dos empresários. Sem essa estrutura, o Fundo Amazônia não pode liberar novos recursos. “Não há base legal para as decisões”, explica o embaixador da Noruega.
Eu
entrevistei os dois diplomatas durante uma hora na sexta-feira, por uma chamada
de vídeo. Eles demonstram conhecimento sobre o Brasil, admitem as culpas de
seus próprios países nas emissões de gases de efeito estufa, comemoram a cúpula
do clima, pela volta dos Estados Unidos aos esforços globais de combate às
mudanças climáticas. Ambos disseram ter gostado da carta do presidente
Bolsonaro ao presidente Biden e do discurso do brasileiro na reunião do clima.
Mas alertam que é preciso ir além. “Queremos ver em breve os resultados dessas
palavras nas taxas de desmatamento”, disse Nils Gunneng. “Estamos ansiosos para
ver a tradução desse compromisso no plano concreto”, diz Heiko Thoms.
Os
dois têm tido conversas com vários setores da sociedade brasileira, e, nos dias
anteriores ao encontro convocado por Joe Biden, eles e outros embaixadores
fizeram reuniões com políticos de diversos partidos, com empresários e ONGs.
Perguntei o que eles têm ouvido. Segundo o embaixador alemão, todas as partes
entendem que problemas ambientais têm um efeito negativo na reputação do país.
“Os povos indígenas compreendem isso, os bancos compreendem isso”, diz Thoms.
O
representante da Alemanha afirma que seu país é parceiro tradicional do Brasil
na luta ambiental desde 1992, que a cooperação bilateral tem 70 anos e há um
portfólio de investimento de US$ 9 bilhões. O representante norueguês conta que
o Fundo Soberano tem investimentos de US$ 8 bilhões em ativos brasileiros. O
grande nó das relações entre os dois e o Brasil atualmente é o Fundo Amazônia.
Perguntei a Gunneng o que ele tinha a dizer sobre a afirmação de Salles de que
o Fundo parou por decisão da Noruega. “É importante dizer que o Fundo foi
congelado porque o governo brasileiro dissolveu a estrutura de governança
unilateralmente sem o acordo da Noruega ou da Alemanha”, respondeu.
O
embaixador da Alemanha acha que o “Brasil está bem posicionado” para se
beneficiar da transição para a economia de baixo carbono. “Tem a tecnologia
necessária, tem uma legislação sólida e produtores sérios.” Gunneng concorda e
diz que o Brasil já mostrou ser capaz de produzir sem aumentar o desmatamento.
“Nós queremos ver mais países pagarem por isso”. O embaixador alemão disse que
“no mundo inteiro os consumidores querem saber de onde vem o bife que está no
seu prato e como o seu smartphone foi produzido. Os investidores procuram
opções verdes de investimento. Quem produz de forma sustentável tem vantagem
competitiva”.
Perguntei a Gunneng o que a Noruega fará com sua economia tão dependente do petróleo, e a Thoms, sobre as emissões históricas da Alemanha. “Nós somos parte do problema”, admitiu o norueguês. “A Alemanha tem grandes desafios como o do carvão”, admitiu o alemão. Os dois, contudo, dizem que seus países estão determinados a fazer a necessária transição para uma economia de baixo carbono. Perguntei se era fácil explicar para os contribuintes os gastos com o Fundo Amazônia. “Sim e não. É fácil quando o desmatamento cai, é difícil quando ele sobe”, diz Nils Gunneng, da Noruega. No momento, então, está difícil explicar.
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