CPI
da Covid tem de investigar desde já o risco de faltar vacina no ano que vem
A CPI
da Covid começa na terça-feira (27) e deve exigir logo de cara
explicações para a escassez de vacina em 2021. Essa inquirição pode fundamentar
processos contra gente do governo Jair Bolsonaro, muito justo. Mas é preciso
que os senadores investiguem o quanto antes o que está sendo feito a fim de
evitar a falta de vacinas em 2022.
A
pergunta pode parecer um despropósito. Falta
vacina para o mês que vem. Até sexta-feira (23), apenas 18% da
população adulta havia tomado a primeira dose (as duas doses, apenas 7,6%).
Parte desse retardo vacinal foi gerada em meados de 2020 pelo triângulo
horroroso que juntou negligência, perversão e ignorância lunática na alcova do
governo Bolsonaro. Vamos parir outro monstro em 2022?
O problema vai além de produzir ou importar vacinas suficientes, em caso de necessidade de revacinação geral, como na gripe. Em tese, nesse aspecto 2022 pode ser menos desesperador. Prevê-se que a nova fábrica do Butantan produza 100 milhões de doses de Coronavac (a ButanVac é ainda mera esperança); talvez a Fiocruz fabrique 300 milhões. Mais um tanto de doses importadas e vacina-se a população inteira até o fim do ano.
Ainda
não se sabe por quanto tempo uma pessoa infectada pelo coronavírus fica imune
(nem o que quer dizer exatamente “imune”). Talvez fique protegida de infecção
mortal por até oito meses, estimou um estudo pequeno e cheio de dedos, mas
feito por pesquisadores de centros reputados (“Immunological
memory to Sars-CoV-2 assessed for up to 8 months after infection”,
publicado em janeiro na “Science”).
Também
não se sabe por quanto tempo uma pessoa vacinada fica protegida de doença
grave. As vacinas da Pfizer e da Moderna protegem por pelo menos seis meses,
afirmaram os fabricantes, agora em abril. Deve ser mais, não se sabe, até
porque as vacinas são recentíssimas.
De
resto, proteção imunológica não é um interruptor, liga e desliga: pode ser
eterna ou durar por muito tempo, com força declinante.
E
daí?
Sem
informação mais segura sobre quanto e como dura a imunidade, é difícil fazer
prognósticos sobre a epidemia. Em um cenário de horror, exagerado para efeito
didático, pode ser que, quando terminar a
vacinação de 2021, os primeiros infectados e vacinados já tenham perdido a
proteção. O risco aumenta porque o vírus estará circulando pelo mundo ainda por
muito tempo (apenas 0,3% das vacinas foram para países pobres, segundo a OMS).
Há ainda o problema das variantes. Pfizer e Moderna estudam a necessidade de
uma terceira dose, incrementada para conter os mutantes.
É
fácil perceber que, quanto menos durar a imunidade e quanto mais tempo o vírus
estiver solto no mundo, mais rápido será necessário vacinar ou revacinar. Na
dúvida, é melhor prevenir do que remediar, até porque não há remédio que cure
Covid.
A fim de evitar desastre novo, é preciso desde já planejar o ritmo de fabricação e compra de vacinas, analisar os imunizantes que temos, aprofundar a pesquisa da imunidade dos infectados, testar mais gente e vigiar as variantes. Para tanto, precisamos de um plano nacional e muita pesquisa. Não temos, claro (Bolsonaro está matando também a ciência brasileira). A CPI tem de fazer um escândalo a respeito, tanto que a gente possa implementar um plano assim, a despeito dos monstros no poder.
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